Pelo que está escrito na placa, isto deve ser uma Agência do Trabalho. Pela porta fechada e o lixo no batente, não há nenhum empregado na Agência do Trabalho. Pela claridade, deve ser de dia, num daqueles horários em que se trabalha. Pela arquitetura, são os escombros de uma Estação Ferroviária. Quer dizer, nem funciona a Agência do Trabalho, nem tem trem. O estranho é que há propaganda no rodapé da placa. Quem patrocinou o quê? Esta inquietação metafísica encetaria uma dialética para muitos cafés filosóficos. E se tudo parece ser, mas não é, o contribuinte haverá de se perguntar: Há alguém recebendo como funcionário da agência sem trabalho? Lendo gibi numa rede e abiscoitando o tutu do povo sem transpirar? Esses caras devem ser uns nababos. Porque xeleléu tem pra dedéu sob o céu. E por mais que se fotografe e denuncie essas coisas feias, ninguém se une para manifestar sua indignação. O brasileiro é assim, ao invés de lutar pelos seus direitos, fica arengando um com o outro, se engalfinhando feito menino malcriado. Parece um bando de Jeremias, se lamuriando sobre uma esteira rolante. Mesmo que uma Agência do Trabalho não funcione e uma galera de desempregados fique perambulando pelas ruas, com o corpo à disposição dos caprichos de Satanás. Vão é ao circo, distrair as vísceras, esquecer a morte. Ficam bêbados debaixo do saracoteado de qualquer Garota Safada, sem o direito de sentir-lhe os sabonetes. Por isso o doido da Noruega, que fuzilou mais de oitenta pessoas, disse que o Brasil era uma país desfuncional.
Desarticulado abraço!
Sosígenes Bittencourt