URBE ET ORBE. CARNAVAL, ABOBRINHAS E SANTIDADE

Emudeceram-se os tambores, tubas, tarós, trios elétricos e afins. Findaram as agressões ao decoro, à ética, à estética e à decência, terminou o carnaval. Ouve-se e lê-se na aldeia discussões acaloradas sobre a qualidade destes dias barulhentos do Woodstock brasilis, e, a cantiga é essa: “foi bom”; “foi ruim”; “o melhor de todos os tempos”; “o pior”; “foi organizado”; “desorganizado”; “houve retrocesso”; “houve progressos”. O menu é vário e a coisa é à la carte, escolha e combine como quiser. Eu, pelo meu turno, não vejo sentido na discussão, carnaval é sinônimo de desordem mesmo, de espontaneísmo irracional. Como na fábula dos “asnos de Buridan”, a vontade é que supera a razão. Depois… depois nada. Afinal, diz-se foi o carnaval. Simples assim.

O carnaval é a nossa reconciliação com aquilo que nós dizemos que nos agride. É um natal às avessas, dessacralizado, blasfemo. É nossa psicanálise coletiva, fala-se, fala-se muito, sempre o que não se deve falar. Promete-se também. Ah! Como há promessas. Fala-se com estranhos, beijam-se desconhecidos e copula-se com a fauna inteira. Depois, o governo garante uma pílula do dia seguinte, um coquetel de remédios ou, uma clinicazinha de aborto. Não nesta ordem. Que maravilha. Mais um carnaval inesquecível (de bom ou de ruim, você escolhe).

Pois bem, em meio à tão respeitosa, nobre e excelsa contenda, das virtudes do carnaval vitoriense, pedi-se permissão para externar, comunicar aos guardiões da cultura local, do patrimônio material/imaterial da terra das tabocas que, um filho deste solo, não tão gentil, um simples menino à época, saído daqui com nove anos, estará em breve tendo julgadas suas virtudes, estas de verdade, intelectuais e morais, pela Santa Sé: Pe. Luiz Gonzaga do Monte. Ou, simplesmente Pe. Monte.

O processo de beatificação do Pe. Monte já foi aberto localmente, ou seja, na diocese em que era incardinado, Natal. A quem interessar possa eis o endereço para uma maior interação, da compreensão da envergadura intelectual, moral e espiritual do Pe. Monte (Inclusive com sua obra completa para baixar):

http://www.padremonte.com/beatificacao.php

O oficiamento da sua beatitude e, posterior santificação, dependerá de fatores diversos. Basta lembrar que o Pe. José de Anchieta foi declarado beato quase 400 anos depois de aberto seu processo. Para que pressa, até lá haverá tantos carnavais e a cantiga será a mesma: “foi bom”; “foi ruim”…

Privadamente já podemos rogar: “Pe. Monte, orai por nós”. Principalmente quem aprontou muito no carnaval.

Marcos Paulo
Professor Universitário

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