Caminhando pela pracinha, Zé e seu amigo Mauro conversavam:
– Oh Zé… até tento, mai num intendo essas coisa que ocê diz…
– Tai falando de que coisa, rapai? – Retrucou Zé.
– Essa coisa, Zé, de não existir certo ou errado… como pode?
– Mai, Mauro, tudo é as duas coisa… – responde dando um sorriso.
– Tudo?! Tai ficando doido, homi de Deus?
– Mai, é sim, seu condenado, tudo pode ser certo e errado.
– Zé! Come que uma coisa pode ser duas, Zé? Tu tá é doido…!
Logo à frente, uma árvore atrapalhava o caminho. Dela, Zé pega uma folha e mostra ao seu velho amigo:
– Tai vendo essa fôia?
– Sim… tô…
– Qualé a cor?
– É verde, ué?! (…)
– E se eu ti dizer que é azul?
– Mai, tai ficando zureta é, Zé? Ou tu tá cego, homi?
– Mai, é de verdade, Mauro. Expia só.
Zé levanta os braços e chama o seu neto de apenas quatro anos:
– Zezinho, achegue…
O moleque, de cueca e barriga d’água de fora, chega nas carreiras:
– Vôinho!!! – disse ele agoniado – Baleia qué me morder oía! Bate nele, vôinho, bate!!!.
– Se achegue… – pegou-o e pôs no colo. – Expia essa fôia, fio… Diga pro Tio Mauro a cor dela.
– Mai, vôinho… – parou o choro, passando o braço de um canto a outro, limpando o nariz – né azul? Vóinha me insinô que as fóia de mato é azul, alembra?
Zé apenas dá sorriso para seu amigo.
– Tai vendo tu, Mauro? É tudo mode a gente vê… depende de como nosso ôio vê.
Mauro demonstra ainda estar confuso.
– Tai vendo aqueles doi de mão dada? – Continua Zé.
– Tô, Zé, quê que tem os namorado? – Pergunta Mauro intrigado…
Zé continua a caminhada, e, dando um sorriso, põe uma das mãos no ombro do amigo, dizendo:
– Tai vendo tu, di novo? É tudo mode a gente vê, homi… num tô dizendo!
Mauro se sente confuso…
– Ali, Homi, são irmão do mermo sangue… – Continuou Zé. – Achega aqui pega Zezinho, que vô mijar.
Arquiles Petrus – Escritor vitoriense, membro da
Academia Vitoriense de Letras.
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