Hoje 17 de setembro 2012, completam 25 anos da morte do vitoriense João Cleofas de Oliveira. Na minha opinião o conterrâneo João Cleofas foi o maior político de todos os tempos de nossa cidade. Segue abaixo alguns trechos retirados do PERFIL PARLAMENTAR – SÉCULO XX – editado pela Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco:
Um ano depois de receber o diploma de engenheiro, Cleofas, com o apoio do então governador de Pernambuco, José Bezerra Cavalcanti, foi eleito, em 1922, prefeito de Vitória de Santo Antão, cidade que aprendeu a amar como poucos e à qual se dedicou o tanto quanto pôde. Foi na sua terra que ele pôde fincar os alicerces de sua vida e criar a primeira imagem de administrador ousado e avançado para sua época.
Em Vitória, Cleofas implantou, quando prefeito, no período de 1922 a 1925, os serviços de abastecimentos de água e fornecimento de luz elétrica, o que foi considerado um grande avanço. Tempos mais tarde, no desempenho de outros cargos públicos, fundou a Escola Agrícola de Pacas – que foi, posteriormente, transformada no Instituto Profissional de Pacas, sob a coordenação da Fundação do Bem-Estar do Menor – FEBEM, e a Escola Agrotécnica Federal. Construiu praticamente com recursos próprios, o Hospital João Murilo de Oliveira, que ainda hoje atende à população pobre e carente da Zona da Mata. O nome do hospital traduz uma homenagem a um dos seus dois filhos homens, morto precocemente em um acidente aéreo, no Rio de Janeiro.
Ainda à sua terra natal fez doação em dinheiro para a constituição da Fundação de Ensino Superior de Vitória de Santo Antão, viabilizando, assim, a instalação e o funcionamento da Faculdade de Formação de Professores do município. Além dessa ações, ele teve uma decisiva participação junto à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, para que a empresa agilizasse a chegada, a Vitória, da luz elétrica gerada a partir de Paulo Afonso.
Em Vitória de Santo Antão, o Instituto Histórico, localizado no centro da cidade, reúne várias publicações escritas pelo filho ilustre. São livros e livretos com discursos e conferências geralmente feitos quando ele era ministro da Agricultura, deputado federal e senador. O Instituto também guarda umas poucas fotografias e alguns móveis antigos que foram doados pela família após a morte do veterano líder político. Um currículo do ex-prefeito, elaborado e distribuído pela Prefeitura municipal de Vitória, assim registra sua atuação em benefício da terra natal: “Realizou uma eficiente administração, dotando a cidade de iluminação elétrica – terceira cidade a usufruir então desse benefício no Interior do Estado – e também promoveu a implantação do serviço de abastecimento d´água, através de chararizes públicos, até que se completasse a rede para atender às instalações familiares”.
(PERFIL PARLAMENTAR SÉCULO XX – João Cleofas – pag: 21 e 22)
CRONOLOGIA RESUMIDA
1899 – Em 10 de setembro, nasce João Cleopfas de Oliveira, no Engenho Pirapama, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco.
1921 – Diploma-se em Engenharia Civil, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
1922 – É eleito prefeito de Vitória de Santo Antão e, após cumprir o mandato, é eleito vereador da cidade.
1925 – É eleito deputado estadual em Pernambuco.
1931 – É nomeado, pelo interventor federal Carlos de Lima Cavalcanti, secretário estadual de Agricultura, Viação e Obras Públicas.
1934 – É eleito para seu primeiro mandato de deputado federal para a Legislatura de 1935/1939.
1945 – Após o Estado Novo, é eleito para Assembléia Nacional Constituinte, seu segundo mandato federal.
1950 – É eleito para o terceiro mandato de deputado federal para a Legislatura de 1951/1954. – Disputa e perde o Governo de Pernambuco para Agamenon Magalhães, por uma diferença de 10 mil votos.
1951 – É nomeado em 31 de janeiro para o cargo de ministro da Agricultura, ficando na pasta até 17 de junho de 1954.
1954 – Disputa e perde, como candidato da UDN, o Governo de Pernambuco, para Osvaldo Cordeiro de Farias, por uma diferença de 35 mil votos
1958 – É eleito para o quarto mandato de deputado federal para a Legislatura de 1959/1962.
1962 – Disputa e perde, como candidato do Partido Republicano e com o apoio da UDN, o Governo de Pernambuco, para Miguel Arraes de Alencar, por uma diferença de 13 mil votos.
1965 – É eleito para o quinto mandato de deputado federal, pela UDN.
1966 – É eleito senador da República, em 15 de dezembro, pela ARENA, derrotando o candidato do MDB, Armando Monteiro Filho.
1970 – É eleito presidente do Senado federal e, consequentemente, do Congresso Nacional, tomando posse em 1º de abril.
1971 – Preside a representação do Congresso Brasileiro no Seminário de Reforma Agrária, realizado em Bogotá, na Colômbia.
1974 – Disputa, pela ARENA, a reeleição para Senado e perde para o candidato do MDB, Marcos Freire.
1987 – Em 17 de setembro, morre, aos 89 anos, vítima de infecção pulmonar, numa clínica do Rio de Janeiro.
(PEFIL PARLAMENTAR SÉCULO XX – João Cleofas – pag: 89 e 90)
A PALAVRA DE UM AMIGO
O comerciante João de Albuquerque Álvares, 66 anos, natural de Vitória de Santo Antão, foi um dos mais próximos correligionários e amigos do ex-senador João Cleofas. Durante quase três décadas, Álvares, que sempre colaborou com alguns jornais da sua terra, acompanhou de perto a trajetória política de seu conterrâneo, com quem manteve fraternos laços de parentesco e amizade. João Álvares é, hoje, um dos pernambucanos que mais conhecem a vida de João Cleofas, sobre quem faz questão de guardar folhetos, jornais e recortes, contando quem foi o mais famoso político de Vitória no século XX. Nesta entrevista, feita no dia 2 de julho de 2001, o comerciante fala sobre a vida pública do ex-senador e sobre o relacionamento amigo que mantiveram.
Pergunta – Quem foi o ex-senador João Cleofas para o senhor?
João Álvares – Dr. João Cleofas de Oliveira, para nós, foi a maior expressão política de Vitória de Santo Antão de todos os tempos. Um homem que fez uma escola de qualidade, de dignidade, de trabalho. Por isso, ele merece a admiração de todos os pernambucanos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.
P – O que ele representou para a política pernambucana?
JA – Um exemplo. Um exemplo que, infelizmente, não vem sendo seguido. A escola de dr. João Cleofas foi a da probidade, da dignidade, a do trabalho, das grandes realizações. Isso se pode verificar e constatar através de seu rico currículo de vida pública. Foram 50 anos de vida pública de mãos limpas.
P – Quando e como foi que o senhor conheceu João Cleofas?
JA – Nós conhecemos dr. Cleofas já numa segunda fase, quando ele disputava o Governo de Pernambuco. Foi através de laços de família. Então, houve um estreitamento de amizade. Tenho a satisfação de dizer que tivemos uma amizade que perdurou durante os tempos áureos dele e os tempos de dificuldade. Foi uma amizade de família.
P – Na sua visão, quais as maiores virtudes do ex-senador como político?
JA – Olha, a seriedade, não é? Dr. João Cleofas era um homem que tinha muita ética política, desejou muito governar Pernambuco e não foi possível. Quem perdeu não foi ele, mas os pernambucanos, porque negaram um mandato a um homem de uma vida pública exemplar. Ele realizou um trabalho brilhante como secretário de Obras Públicas de Pernambuco, como ministro da Agricultura, como presidente do Congresso Nacional. De sorte que Pernambuco perdeu muito, fazendo outras opções que não foram as melhores, as mais inteligentes.
P – O senhor acha, então, que ele foi traído nas eleições que perdeu?
JA – Não. Eu não acredito propriamente em traição, não é? Porque é uma questão de opção. Então, naquela época, na verdade, as disputas eram feitas sem a abertura de hoje. Os meios de comunicação não eram como os de hoje e, talvez, os pernambucanos não tivessem entendido muito bem a sua mensagem. Mas não faço uma colocação como traição, e sim como opção não muito inteligente dos pernambucanos.
P – Na sua opinião, nos anos 70, quem eram os grandes amigos políticos dele, aqui no Estado?
JA – Um dos grandes amigos políticos dele era o dr. José Augusto de Oliveira, que foi deputado estadual por quatro legislaturas, inclusive foi líder do Governo Cid Sampaio. Dr. João Cleofas, apesar de ter sido batido três vezes (perdeu três eleições para Governo do Estado, 1951/52, 1955/58 e 1963/64), nunca perdeu o carinho dos pernambucanos, nunca se abateu e sempre mereceu o maior respeito, inclusive dos adversários.
P – Quais foram os maiores adversários dele durante as eleições que disputou?
JA – Ele disputou a primeira eleição (para o Governo) com Agamenon Magalhães, que era um líder inconteste, e perdeu como menos de 10 mil votos de diferença. Foi uma eleição renhida. Naquele tempo, pesava o coronelismo. Dr. Etelvino Lins e aquela cúpula do PSD que fazia política – se sabe hoje – de forma não muito escrupulosa, com currais eleitorais no Sertão. Ele (Cleofas) perdeu uma eleição de maneira incrível, quando ele era o favorito e as urnas do Sertão deram uma maioria esmagadora a dr. Agamenon Magalhães. Mas, felizmente, o Governo ficou em boas mãos, porque Agamenon também fez um bom Governo.
P – Qual foi a campanha mais adversa que ele enfrentou?
JA – Eu acho o seguinte: a Revolução ou Golpe de 64, como queiram chamar, foi um mal necessário ao Brasil. Naquela época, João Goulart, Leonel Brizola e outros queriam implantar o comunismo no Brasil. Então, dr. João Cleofas tinha uma posição muito séria contra o comunismo e fez um trabalho que foi injustiçado pela própria Revolução. Ele foi escolhido e eleito presidente do Senado e do Congresso Nacional, mas o que ele queria mesmo era ser governador. De forma que ele foi injustiçado pela própria cúpula da Revolução de 1964.
P – O que o senhor acha que mudou na política pernambucana depois que Cleofas saiu de cena?
JA – Eu só tenho uma grande recordação dos políticos de Pernambuco: é da política econômica do Governo Cid Sampaio, quando foi implantada a SUDENE. Na verdade dr. Cid implementou em Pernambuco um programa de trabalho, de desenvolvimento, quando foram instalados os grandes polos de desenvolvimento do Estado, os distritos industriais do Cabo de Santo Agostinho, de Jaboatão dos Guararapes, de Paulista e outros. De lá para cá, temos sido um Estado perdedor. Então ficou em dr. Cid Sampaio aquela ideia, aquele programa de desenvolvimento, de crescimento. É quando a gente se lembra da bravura de Pernambuco, de ser o Leão do Norte. Dr. Cid ganhou uma eleição bonita, combatendo as forças que manipulavam as eleições e fez um trabalho extraordinário. De lá para cá, sinceramente, eu não vi mais nenhum Governo que trouxesse para o Estado o que todos desejamos: o desenvolvimento.
P – O senhor acha que João Cleofas foi o maior político de Vitória de Santo Antão, uma vez que na cidade nasceram tantos nomes importantes?
JA – Sem nenhuma dúvida, sem demérito para os demais. Vitória teve pessoas muito importantes, como dr. José Rufino de Bezerra, ex-governador de Pernambuco e ex-ministro da Agricultura. Mais recentemente, tivemos dr. Gustavo Krause, que foi ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, dr. Aloísio Sotero, que foi ministro interino da Educação. Então, Vitória tem sido rica na revelação de grandes políticos. Mas dr. João Cleofas, para Vitória, ocupa um lugar de destaque, pois ele amou muito esta terra. As melhores e maiores obras concretas da cidade vieram pelas mãos de dr. João Cleofas de Oliveira.
P – Quais as últimas lembranças que o senhor guarda dele?
JA – As últimas lembranças como pessoa humana é que ele nunca demonstrou o menor ressentimento por nada. No coração dele não existia ódio, ele não tinha inimigos políticos, tinha adversários de momento, adversários de palanque. Ele nunca se queixou de injustiça de quem quer que seja. Por incrível que pareça, ele ainda manifestou – embora não de maneira formal – que guardava o desejo de encerrar a vida pública como prefeito de Vitória. Dois anos antes da morte, ele, almoçando conosco, fez essa revelação, porque amou muito a sua terra. Em 1921, quando foi prefeito aqui, ele instalou água, luz, telefone, infra-estrutura. Em Pacas, onde hoje está a FEBEM, foi ele quem instalou, naquele tempo, uma escola agrícola. Muitos pernambucanos ilustres frequentaram aquela escola. Ele foi o pioneiro da irrigação no terreno árido de Pernambuco, em Petrolina. Conseguiu financiamento, por intermédio do Governo Federal, para movimentar as chamadas rodas d’água do Rio São Francisco e utilizar as suas terras, hoje um centro de produção agrícola que é orgulho de Pernambuco.
P – Vitória de Santo Antão ainda deve alguma homenagem a seu filho ilustre?
JA – Vitória deve ainda a dr. João Cleofas uma estátua, um monumento. Eu espero que alguma prefeito faça ainda essa grande homenagem. Na verdade, nossa principal rua do comércio hoje leva o seu nome (antiga Barão do Rio Branco), também tem uma escola estadual Senador João Cleofas de Oliveira. Acredito que só nos resta erguer um monumento, não apenas um busto, mas um monumento por inteiro em homenagem a sua pessoa.
(PEFIL PARLAMENTAR SÉCULO XX – João Cleofas – pag: 81 a 86)
Belíssima e merecida homenagem, aposto que poucos lembraram dessa data! Quem dera os atuais políticos seguissem o exemplo deste, que foi um dos mais sérios e honrados políticos de nossa história! Parabéns Pilako, pela matéria!
O grande feito de Cleofas foi perder pra Marcos Freire a eleição pra senador, pela importância da derrota de um candidato apoiado pela DITADURA MILITAR. Pela cronologia posta no artigo observa-se que Cleofas sempre esteve ao lado dos conservadores atrasados.