Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
No lugar de aprender a atirar com arma de fogo, a gente brincava com carrinho de madeira e pulava corda na calçada.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
A gente namorava escondido, com medo de levar uma pisa e dos castigos de Deus. Hoje, o menino vai para o forró e dorme na casa da namorada.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
Minha mãe era uma mulher e meu pai era um homem. Hoje, o menino pode ser filho de duas mulheres ou de dois homens.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
A primeira vez que dei beijo de boca, pensei que era o amor que estava chegando. Hoje, o beijo pode ser uma mera “troca de bactérias em campo úmido”, como diria o escritor espanhol Pitigrilli.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
Ninguém urinava na praça com medo de levar carão e passar vergonha. Hoje, a meninada faz neném no meio da rua.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
Menino não dirigia carro porque não tinha idade para arcar com prejuízo. Hoje, menino dá cavalo de pau, exatamente porque não precisa arcar com prejuízo.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
Um juiz desfilava pela avenida, reverenciado como um mito. Hoje, vai urinar escoltado e pode levar 21 tiros na porta de casa.
Faz 45 anos que eu tive 13 anos.
A professora era a segunda mãe. Hoje, pode ser a segunda madrasta.
Sosígenes Bittencourt