Luís, o escultor

“Desde minha primeira infância, que senti despertar em mim um grande interesse pelo desenho e pela escultura. Não sabia que desejo era aquele que aflorava dentro de mim. Melhor, que explodia. Pouco me interessava compreendê-lo. Tão pouco sabia do que se tratava. Simplesmente gostava. Gostava, isso eu sabia, de fazer bonecos de argila. Fabricava bois, vacas, carneiros, vaqueiros com gibões montados em seus alazões. Fazia também figuras de cangaceiros e soldados. Tudo de barro. Minhas irmãs adoravam meus bonecos. Elas preferiam os santos e os anjos. Até brincavam com eles.

Já, meus irmãos, Nô e José Guelpher, perseguiam minha arte. Ou era a mim que eles visavam? Seria inveja? Meu nome já saia nos jornais locais. Eu era elogiado e cumprimentado por onde passava. A natureza, que quase sempre é mais madrasta que mãe, cobriu-me com afagos: inteligência, leniência e toque artístico.

 Na época eu já entendia que o bem verdadeiro, meu potencial artístico, era intrínseco, ninguém o podia furtar-me. Meu pai e irmãos nada tinham a me dar nesse sentido. Aliás, ninguém, não só eles, tinha algo a me acrescentar. Só eu podia desenvolver aquela sensibilidade. A chave estava comigo. Eu precisava, simplesmente, de apoio, de amor, de compreensão e sobretudo de respeito

Não sabiam aqueles truculentos quanto o ofício da argila me satisfazia e completava. Eles só se preocupavam em ganhar e juntar dinheiro para abrir um comércio. Eu não dava importância ao dinheiro. Queria ser livre como as aves do nosso sítio. Permanecer um sempre garoto que valorizava a família, o amor, a solidariedade e a amizade. Faltava a eles a confiança. A confiança é um sentimento imprescindível para o ser humano viver em paz e harmonia. Quando tu entras no avião, tu confias no piloto; quando tu comes no restaurante, tu confias que a comida não está envenenada; quando tu vás ao médico, tu confias na capacidade do profissional. Sem confiança não há relacionamento. Sem confiança a sociedade seria uma torre de Babel.

(Trecho do livro “Luís o escultor” próximo trabalho do professor Pedro Ferrer, que será prefaciado pelo dr. Aldenísio Tavares).

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