Matéria do Jornal da Vitória – Heronita Dantas.

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Relembrar momentos felizes com o despertar para a leitura e a escrita foi marcante em minha vida. O Colégio Nossa Senhora da Graça, das Damas Cristãs, em Vitória de Santo Antão, PE, foi o palco das minhas aventuras com a descoberta das palavras, que faziam fluir e embelezar meus pequenos textos ainda no curso ginasial.

Minha linda professora Inesita de Língua Portuguesa era a mais envolvida com minhas palavras e sempre elogiava tudo que eu escrevia. Sentia-me uma verdadeira escritora, mesmo sem ter ainda um vocabulário consistente, pois nossas leituras eram sempre na biblioteca do colégio e não poderíamos levar livros para casa. Isso muito me contrariava, mas não me desestimulava a escrever cada vez mais. Porém, foram muitos escritores que me fascinavam a ler, só que o tempo era pouco e eu só fazia o que podia.

Uma das escritoras brasileiras que mais me inspirou para o mundo da escritura e que me inspira até hoje é Cora Coralina, uma das maiores poetisas que escrevia desde criança, mas que só foi reconhecida pelo público leitor brasileiro aos 65 anos e até hoje é considerada um mito na poesia brasileira.

No início, sentia muitas dificuldades de encontrar as palavras que poderiam ficar marcadas no meu caderno e no meu coração. Isso me deixou marcas que jamais esquecerei, pois não foi fácil para uma jovem de 15 ou 16 anos enfrentar todos esses desafios, como as incertezas de escrever as palavras e colocá-las com coerência no meu caderno que era chamado: O caderno das histórias fascinantes. Dessa maneira fui caminhando nas ladeiras da minha vida de adolescente com o propósito de escrever com a mão o que vinha do meu coração.

Iniciei minha história com textos que falavam da minha vida, autobiográficos, já que era uma jovem que lutava contra o preconceito de ser pobre e estudar em um colégio de elite da cidade. Mas isso nunca me desanimou, nem me entristeceu, porque eu sempre tive ideais consolidados e fui perseverante em todos os meus objetivos. Apenas não gostava quando a Madre Superiora questionava quanto ao pagamento das mensalidades no período das benditas provas. Isso porque eu e algumas amigas éramos bolsistas e, às vezes o pagamento atrasava e como castigo não nos deixavam fazer essas provas. Então eu perguntava a mim mesma: O que fazer agora? Escrever o que? O que estava no coração de uma jovem adolescente cheia de sonhos e também tristezas por não realizar esse tipo de atividade, que era um requisito para aprovação mensal do curso.

Procurei sempre olhar ao redor e encontrar a beleza de tudo que Deus criou e isso me incentivava a registrar as belezas, as incertezas e o desabrochar das manhãs da minha linda cidade natal. Então, mesmo às vezes sem fazer as benditas provas em tempo hábil, eu realizava algo que para mim tinha um significado e uma importância inatingível. Os registros das minhas palavras ficaram marcados no m eu caderno e no meu coração até o momento atual, pois continuam vivas em minha vida, enquanto as provas passaram e não são mais lembradas. São como folhas que se rasgam e voam pelo ar e desaparecem com o vento que os levam para longe.

O mesmo acontece com as palavras, não que desconsidere a oralidade que tem e deve ser trabalhada com rigor e eficiência nas escolas, mas às vezes são ditas e esquecidas, mas a escrita fica registrada para sempre de geração a geração. Temos como exemplo os nossos amados escritores que tanto contribuíram e ainda contribuem com suas obras na literatura, como: Machado de Assis, Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira e muitos outros que continuam vivos com a escrita das suas obras estudadas nas escolas, faculdades e universidades brasileiras.

O encanto de escrever tudo que brota da nossa alma, do nosso ser nascer através do pensamento e das boas leituras que fazemos nas horas de lazer e também de estudo, porque somos eternos aprendizes, estamos aprendendo sempre como já dizia o saudoso mestre Paulo Freire. E esses caminhos da escrita quero conquistar ainda mais a beleza das palavras e escrever sempre, pois o valor das pequenas coisas às vezes está bem próximo de nós e as esquecemos, porque deixamos passar como o vento que leva para o mar e não volta jamais.

A escrita para mim é algo fantástico, porque a inspiração nasce às vezes de algo que é insignificante, no entanto tem um valor extraordinário para quem escreve, pois as palavras surgem como o nascimento de uma criança que os pais se alegram e comemoram bastante com seus familiares. Assim é quem tem a ousadia de escrever e se apropriar do poder das palavras.

(HERONITA MARIA DANTAS DE MELO – Graduada em Letras pela Faculdade de Formação de Professores da Vitória de Santo Antão (atual FAINTVISA); Mestrado em Programa de Formação Avançada em Educação pela Universidade La Empresa, UDE, Uruguai e Especialização em Psicopedagogia em Língua Portuguesa; Doutorando em Língua e Cultura Portuguesa, na Universidade Trás – os – Montes e Alto Douro (UTAD), em Portugal.)

(Jornal da Vitória – ANO XXXV – Nº 211 – Maio/Junho 2014 – pág. 2).

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