Monte das Tabocas, 03 de agosto de 2015.
“Hoje é segunda-feira e decretamos feriado”
Raul Seixas.
O Monte naquela tarde: a altivez da terra erguida sobre a planície do deserto. Cansados de vagar pela terra abandonada, jovens galileus, “à sombra do mundo errado”, produziram miragens. E virão outras! Da CIDADE não se via, mas lá do alto do Monte das Tabocas, dava para ver e sentir a CIDADE.
O Sermão da Montanha ou um pequeno parágrafo sobre as ideias mágico-anárquico-revolucionárias dessa “nova família”. A carta fundante de uma nova moral para o Ocidente talvez tenha sido escrita pelo apóstolo Mateus. Nela, Jesus anuncia as virtudes do último homem, Ele. Dirigida aos pobres de espírito, subverteu a moral romana, afeita ao dente por dente. Nossa resposta ao descaso é uma mão estendida. Ouviram bem?!
Fins particulares, que contêm substancialidade, são também fins coletivos e, por isso, me interessam. E por falar em Coletivo… Gostaria de dizer que o nosso – AMOR – serve a todos. Homens e mulheres nascem livres e devem gozar de direitos iguais (até que provem o contrário), por isso, nossa “nova família” não pode ser uma propriedade, um partido ou um rótulo. Se assim fosse, todos os nossos ideais de fraternidade cairiam por terra. Nossa “nova família” pretende, antes de tudo, ser mundo. Servimos às pessoas. Não nos opomos às opiniões mais gerais por orgulho ou soberba. Nós não sonhamos com o último lugar da história. Mas, é verdade, desejamos roçar o absoluto de alguma forma, tocar a temível identidade – isso também é ser-mutante.
Simpatizamos com o que os gregos chamavam de kalós-kai-agazía – a identidade entre o bem e a beleza. Os puros de coração podem se chegar, as portas e as janelas estarão abertas. Só eles deveriam herdar os reinos e conhecer os deuses. A identidade entre esses dois conceitos talvez não faça mais sentido para a filosofia dos nossos dias. Mas insistiremos nela. Fazer arte ou cumprir um dever demanda esforço. Penso como Aristóteles, ninguém pode ser bom porque fez o bem só uma vez. A ética e a estética são exercícios. Mais: quando fazer arte se torna um dever cívico… O que vi no dia da Batalha foram trabalhadores, carpinteiros vindos de Galileia, trabalhando a céu aberto. Não faremos cruzes para os romanos, serramos os tabocais para fazer pontes.
Durval Cristóvão – integrante do Coletivo Galileia.