Parece filme de ficção, mas não é. Quem assistiu a última exibição do FANTÁSTICO – programa dominical da Rede Globo de Televisão – certamente acompanhou os detalhes da operação que transferiu-se da capital cearense, Fortaleza, para o outro lado do Oceano Atlântico, uma “sucata” de avião, tipo Boeing, dentro de outra aeronave, com o dobro das suas dimensões e totalmente apta para voar.
Essa “sucata” de avião, por assim dizer, veio “encalhar” aqui no Brasil depois de uma transação comercial comum e, após meia duzia de anos em operação, acabou fechando seu ciclo de validade. Mas a referida aeronave, poucos sabiam, foi palco de algo incomum e que se tornou histórico. Mesmo nos remetendo a um fato negativo, que todos gostariam de esquecer, ocorrido em outubro de 1977.
Ao decolar da Espanha com destino à Alemanha, com noventa e um passageiros, terrorista assumiram o controle da aeronave e circulou por cinco dias, pousando em vários aeroportos. O ato terrorista, naquela ocasião, estava ligado à libertação da Palestina. Agora, quarenta anos depois, a preservação do “palco” da tragédia, foi assegurada.
Pois bem, na medida do possível tenho conversado continuamente com o presidente do nosso Instituto Histórico, professor Pedro Ferrer. Pedro encontra-se em Recife, hospedado na casa de uma irmã se tratando da visão. Ele está bem e segue se recupera dentro dos prognósticos médicos, mas o repouso tem que ser absoluto. Motivo pelo qual foi “expulso” da sua rotina antonense.
Ao telefone, anteontem (04), batemos um alongado papo. Sobre o caso acima exposto, comentamos bastante. Ele, conhecedor dos museus pelo Mundo afora, realçou a preocupação e o desprendimento financeiro dos alemães em preservar a história. Disse-me ele: “Pilako, depois que esse avião for recuperado e exposto em algum museu, quantos turistas não irão ao seu encontro. Ao final, todo dinheiro investido retornará, além da preservação histórica, que é o mais importante”. Ao final arrematou: “que este exemplo sirva de inspiração aos nossos governantes brasileiros”.
Com efeito, entramos no “mundo vitoriense” e citamos a campanha continua que o nosso Instituto Histórico vem promovendo, na busca da preservação da história, ao solicitar das famílias locais peças valiosas – sem valor financeiro – para enriquecer o acervo da Casa do Imperador. Apesar da indiferença, por parte de alguns, uma boa parcela, com mais entendimento histórico e desapego material, vem doando peças interessantes que tem tudo haver com o cotidiano vitoriense do tempo pretérito.
Recentemente, por exemplo, o casal Edinaldo e Terezita doaram uma filmadora, que captou, durante décadas, cenas do nosso memorável carnaval. O sempre atencioso Jurandir Soares repassou ao acervo do Instituto Histórico uma peça que foi da Rede Ferroviária. A “amplificadora” do Nelson Propaganda também é outra peça valiosa que foi doada e se encontra a disposição de toda população no nosso Instituo Histórico.
Esses e outros tantos são bons exemplos de preservação da nossa cultura, que deveriam ser seguidos pelos outros conterrâneos. Não são raras as oportunidades em que os objetos deixados por seus proprietários, após a viagem sem volta, são desprezados pelos familiares e vão “morar” na lata do lixo, sem nenhuma contribuição à “Terra Mãe”.
Portanto, encerro essas linhas provocando outros tantos vitorienses para que sejamos inspirados pelos alemães e também nos atos dos vitorienses aqui citados, a doarem peças ao acervo do nosso Instituto Histórico. Imortalize sua memória. Toda peça tem uma história, preserve-a, doando a uma instituição séria e comprometida com a cultural da cidade assim como com o futuro das gerações vindouras, afinal, como diz o viajado professor Pedro, “todo Museu é uma escola!”