No tempo de eu menino, ninguém sabia que cigarro entupia os alvéolos pulmonares, provocava enfisema, dava câncer. Quanto mais, menino.
Papai comprava cigarro americano importado e colocava no guarda-roupa. Tinha Half and Half, Marlboro e Pall Mall. O cheiro era de chocolate, e papai dava belas baforadas depois do café, sentado numa cadeira de sofá pé de palito, à la Hamphfrei Bogart. Às vezes, ouvindo o jogo do Sport Club do Recife, abraçado com um rádio transistorizado. Também desconhecia que cigarro servia para aplacar ansiedade, era ansiolítico. E eu ficava ansioso para experimentar sem jamais ter inalado.
Um dia, eu entrei no seu quarto, e a porta do guarda-roupa estava entreaberta. O cheiro de chocolate incensava o cubículo. E lá estavam as carteiras de cigarro empilhadas. Meticulosamente, pé ante pé, puxei um canudinho do maço e corri para o quintal. Esfreguei um fósforo na lateral da caixa e acendi um Malboro. A cabeça ficou zonza, o mamoeiro balançou, e o vento esfriou sob o sol escaldante da tarde.
Pronto! Estava fundado um vício que durou 40 anos e me brindou com uma falta de ar, o que me fez definitivamente largar a glamourosa Chupeta do Satanás.
Enfisematoso abraço!
Sosígenes Bittencourt