Domingo 10 de março de 2019 – Hoje lembramos o nascimento daquele que foi mais um apaixonado por sua cidade natal. Aquele que, em plena segunda feira e há exatos 100 anos, na Rua Barão da Escada, número 49, nascia na cidade da Vitória de Santo Antão, como décimo sétimo filho do farmacêutico José Cunegundes de Oliveira e de Pastora da Conceição Portela.
O Sol declinava no horizonte, a luz do dia se apagava e as luzes da cidade eram acesas. A noite parecia calma, mais só parecia. De repente, um corre-corre e um nervosismo se fazia perceber. Vai nascer! Chama parteira! Começa todo um preparativo para a chegada de mais um Oliveira. Ferve água, bacias, panos limpos, tudo a posto. Suas tias e irmãs mais velhas se postam no chão e rezam para que tudo corra bem. A comoção se devia ao estado de saúde da mãe Pastora, que acometida pela febre espanhola, colocava em risco sua própria vida e a vida do filho. A mãe então, como último recurso apela ao poder divino, e oferece o filho ao serviço do Pai. As horas passam, a tensão cresce, a escuridão da noite começa a declinar quando, aos 00:15 minutos da madrugada do dia 10 de marco de 1919 um choro ecoa no ar. É o menino Severino Militão de Oliveira chegando. E a despeito de todos os prognósticos o menino nasce e sobrevive.
Se sentindo estrangeiro em sua própria casa, crescia Severino, saúde frágil mais muito inteligente, criou com pedaços de filmes que colhia no lixo dos cinemas da cidade, seu próprio cinema. E no quintal de sua casa ele exibia as fitas para seus amigos de infância.
Menino travesso, sempre aprontava das suas. E depois, pernas pra quem te quero. Mas, nem sempre conseguia fugir aos castigos. Uma de suas estratégias de fuga era subir a meia parede que separava os cômodos de sua casa, onde ele se empoleirava para não ser pego, pois sabia que nas alturas jamais seria alcançado para os castigos corporais. Ali podia ficar bem longe dos adultos. – “Desce menino!”… chamava a mãe. E o menino Severino não dava ouvidos aos apelos dos mais velhos e ali permanecia por longos e longos tempos até o cair da noite quando todos os ânimos se arrefeciam e a pisa era adiada, porém, nem sempre esquecida.
Mas, esse menino, irrequieto por natureza, tinha visões. Visões de seres estranhos ao seu convívio e tinha medo. Tinha medo porque não conhecia e nem compreendia o que via. Desde criança possuía o dom da vidência.
Ele era o próprio – “Menino sonhador”, aquele que saiu de casa para pegar estrelas com as mãos.
E de fato aos 14 anos o menino sonhador saiu da Vitória e alçou vôo por outras paragens e tornou-se um homem determinado e de ação, para então, 70 anos após sua saída, voltar a sua cidade natal e criar a Academia Vitoriense de Letras, Artes e Ciência.
Ilka C. Gomes de Sá Oliveira