Esses navios, que passam na noite,
são navios perdidos no além
são navios de piratas, marinheiro,
doudas fragatas que vão e que vêm.
São navios a vela
Bergantins, Brigues, Caravelas,
velozes, breves, fugazes,
perdidos para sempre sem roteiro.
Todos passam na amplidão do mar,
nessa noite escura de pressentimentos,
francamente alumiada por velhos candeeis.
Lá vão os piratas heroicos,
os que mancharam de sangue as águas com seus alfanjes,
os loucos comandantes abandonados, sem remissão,
alucinados no meio das águas,
nessa noite de incrível escuridão,
a procura de marujos naufragados
noutras noites de abandono, sem perdão,
pedindo à Mãe dos Navegantes
o encontro de saudosos irmãos.
Esses navios que passam, marinheiro,
são navios perdidos na além;
são navios de esquecidos guerreiros
que procuram, que buscam alguém.
(em TAMPA DE CANASTRA)
José Tavares de Miranda, vitoriense nascido a 16 de novembro de 1919, filho do Prof. André Tavares de Miranda. Fez os primeiros estudos na Vitória, sob os cuidados do seu genitor, e transferiu-se para o Recife, onde teve grande atuação na imprensa. Mudando-se para São Paulo, ali concluiu o seu curso de Direito (iniciado na Faculdade de Direito do Recife) na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, em 1939. Escritor, jornalista e poeta. Teve vários livros publicados inclusive de poesias, sendo estes últimos reunidos em um só volume: TAMPA DE CANASTRA. Faleceu em São Paulo (Capital) a 20 de agosto de 1992.