Por mais que se tente criar um cenário diferente o presidente Jair Bolsonaro é um sujeito traquejado na política. De vereador da “Cidade Maravilhosa” ao posto maior do País, com longa duração no “caldeirão” legislativo mais efervescente que temos, ele aprendeu jogar bem nesse difícil jogo. Além de tudo isso fez da política o negócio principal da família. Portanto, não devemos trata-lo como algum neófito no ramo.
Nessa linha de raciocino não podemos achar que sua língua seja maior que a sua estratégia. Num só tempo, o presidente ocupa-se de dois espaços antagônicos por natureza. É “situação” e “oposição”. Ele mesmo agride e ele mesmo se defende – na linguagem futebolística: bate o escanteio e corre para cabecear.
Toda ação política extremista precisa de inimigos bem definidos. A guerra ideológica é o principal combustível de sua plataforma e caminhada. O que falaria o Bolsonaro se o mesmo retirasse do seu discurso apenas esse tema (viés ideológico)? Na recente polêmica, disparada na direção do governador nordestino filiado ao PC do B, ele apenas cumpriu mais um ato da sua ópera, já exaustivamente ensaiada.
Tratar os moradores da Região Nordeste como sub-brasileiros – “paraibas” – é também apenas mais um capitulo dessa novela. Aliás, o “nós e eles” já fora uma ideia concebida e executada nas últimas gestões petistas. Bolsonaro apenas tomou o leme do barco governamental e mantém essa divisão ao seu modo e sabor, evidentemente que dentro do seu perfil e no limite do pragmático calculo eleitoral. Desse jeito, convenhamos, sua gestão, que já passou dos 200 dias, ainda não saiu da fase da campanha eleitoral (talvez não saia nunca), ou seja: é a mesma coisa que acender um cigarro e sentar-se para cochilar num barril de pólvora.
No meu modesto entendimento só consigo enxergar todas essas besteiras e polêmicas sem sentido algum basicamente como forma de ocupar todo espaço da imprensa, para aprofundar as divergências previamente já delineadas, ofuscando assim os questionamentos naturais de ofício, em função da liturgia do cargo. Governar é muito mais do que criar polêmicas todos os dias…….
No mais, não se pode imaginar que o presidente Bolsonaro seja um sujeito tão despreparado quanto se apresenta. A tática é arriscada, mas funciona, até porque existe uma parcela expressiva da população brasileira que tem natureza belicosa e respira todos os dias polêmicas rasas, encontradas em abundância, por exemplo, no mundo do futebol. Nelson Rodrigues já disse: “os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.