Aqui no blog do Pilako, já tivemos uma ótima análise do filme Bacurau feita por André Carvalho, onde ele aborda em termos gerais esse filme maravilhoso, que aliás, conquistou o seleto Júri do Festival de Cannes, se sagrando o primeiro filme Brasileiro a ganhar a premiação nesta categoria (Prêmio do Júri). Eu não vou fazer uma nova análise deste filme, mas eu quero chamar a atenção para um recorte da obra, uma cena que pra mim é determinante para o desenrolar da trama e que passa uma mensagem profundamente verdadeira, que me fez ter uma reflexão do quão importante é a nossa história e de como ela está cada vez mais sendo deixada de lado, e principalmente quais as consequências disso, afinal Bacurau se passa num futuro distópico porém profundamente ligado ao nosso presente.
Esta cena a qual me refiro é quando os dois motoqueiros chegam na cidade de Bacurau com a missão de colocar o equipamento que bloqueia o sinal de celular da cidade inteira, a primeira coisa que os dois fazem quando chegam na cidade, é ir ao bar e tomar umas bebidas, onde disfarçadamente eles instalam o bloqueador de sinal, eles chamam bastante atenção por conta de suas motos barulhentas, e suas roupas de trilha, que são um tanto quanto extravagantes. Talvez numa tentativa de mostrar o “valor” daquele pequeno lugar, os moradores logo oferecem a oportunidade deles conhecerem o museu da cidade de Bacurau, para que eles pudessem conhecer a história daquele povo, que obviamente era motivo de orgulho para cada um que estava ali naquele momento. Imediatamente os dois forasteiros se negam a conhecer o museu, dão uma desculpa qualquer e como já tinham cumprido a missão de bloquear o sinal de celular com o aparelho instalado embaixo de uma das mesas do bar, eles vão embora e a trama segue a partir daquele acontecimento. Aí vem o ponto que pra mim é o determinante da trama.
Se eles fossem ao museu iriam descobrir a história de luta de um povo que estava estampada e exibida no museu através de armas antigas expostas como um troféu que expressavam a força de um povo sertanejo, que ao mesmo tempo que eram pacatos também poderiam ser extremamente viscerais quando se sentissem ameaçados, aquele arsenal do Museu da Cidade de Bacurau foi o que salvou aquele povo, a história renegada pelos forasteiros, foi o que salvou aquele povo, ao mesmo tempo que a preservação daquela história foi o trunfo determinante para a vitória no confronto final.
Para mim, esse é o recado que o diretor Kléber Mendonça filho passa nesta cena do filme, quanto mais se renega a história de um povo, menos empatia se tem por ele e menos se conhece daquela realidade. Ao contraponto que a salvação da cidade de Bacurau, foi justamente a preservação de sua história materializada naquele arsenal bélico, o orgulho do seu passado salvou o seu futuro. Que essa ficção nos inspire e nos ajude a preservar o
nosso passado, para que o nosso futuro não seja tão sombrio.
Raphael Oliveira – Historiador, Analista de Sistemas, Radialista/Podcaster, metido a escritor.