O tempo esquentou na Primavera. E com a quentura, ou variação de temperatura, ora fresca, ora escaldante, muriçocas e baratas são bem-vindas. Baratas já desfilam pelas calçadas, de sapato alto e antenas ligadas, muriçocas já migram em revoada, executando sua sinfonia macabra.
As fobias renascem. Não raro, os tementes a barata, munem-se de bisnagas de inseticidas, e os apavorados com pernilongos buscam repelentes atmosféricos ou de esfregar na pele. Fobia é uma espécie de medo de leão sem leão. Uma barata ganha a dimensão de um dinossauro.
E como sofrem as criaturas. Aquele funcionário público que tem de se levantar cedinho para tomar 3 conduções para chegar ao trabalho, amarrotado, sonolento e suado, depois de uma madrugada revirando-se na cama, acendendo a luz para aspergir veneno em muriçoca. Aquela dona de casa que tem de preparar o café, de madrugadinha, botar feijão no fogo e levar os meninos para a escola, depois de uma noitada de vigia, com os olhos aboticados nas paredes e se envergando para olhar debaixo da cama.
No tempo de eu menino, contavam que havia um comerciante tão pirangueiro, na cidade, que as baratas de sua mercearia morriam desnutridas por não terem acesso às mercadorias.
As muriçocas de hoje são falsas, misturando-se com o aedes aegypti, aquele pernilongo de meião alvinegro, cuja fêmea nutre-se vampirescamente do sangue do indivíduo, ameaçando-o de morte.
Sosígenes Bittencourt