Em termos de artes cênicas, dramaturgia, nós não assistimos ao filme, à novela, ao teatro, mas participamos, amamos e odiamos por identificação com os personagens. Na novela Avenida Brasil, a megera Carminha encarna um animal muito encontradiço, que é quem comete o que os gregos chamavam de hybris, ou seja, descomedimento, excesso, arrogância, indo de encontro aos deuses. Ora, na visão da mitologia, os deuses, ultrajados, não punem quem comete hybris, porque não precisa, a própria hybris volta-se contra quem a praticou. Seria uma espécie de “o ruim por si se destrói.”
Carminha comete hybris quando o seu erro é consequência de uma paixão descontrolada, não querendo avaliar, com prudência, a relação de causa e efeito sobre o que pratica. Carminha não pede perdão por querer o perdão, mas por querer continuar enganando Tufão para manter seu namoro com Max.
Em Rei Édipo, de Sófocles, a hybris cometida por Édipo foi desafiar Tirésias, um cego que enxergava a verdade, teimando em não reconhecer que, mediante evidências, ele havia matado o próprio pai e desposado a própria mãe, terminando por furar os olhos com um alfinete.A novela é extremamente bem confeccionada, levando o telespectador a se mexer na cadeira de tanto que identifica o personagem ou se identifica com o personagem.
Sosígenes Bittencourt