Na medida do possível estou sempre atento às questões históricas atinentes ao nosso torrão. Sublinhemos, de partida, que o maior guardião da memória antonense é o nosso Instituto Histórico e Geográfico. Aliás, diga-se de passagem, esse ano (2020), completando sete décadas ininterruptas de incomensurável serviço prestado a toda comunidade.
Pois bem, dias atrás circularam por grupos locais de whatsapp fotografias realçando o ato inaugural do “Recanto Gaúcho Churrascaria”. Para os mais maduros, que já passaram do meio século de vida, como eu, o local dispensa maiores apresentações. Já para os mais jovens devemos dizer que o badalado e moderno restaurante foi construído no alto de uma barreira onde hoje funciona o Posto Santa Cristina.
A minha primeira e forte lembrança do espaço, por assim dizer, ocorreu em 1978 por ocasião das comemorações dos 50 anos de vida do meu pai, Zito Mariano. Nesse dia, com apenas dez anos de idade, diante de uma multidão, usei da palavra para fazer-lhe uma singela homenagem. Ainda guardo as últimas palavras do que estava escrito: “tenho dito”. A invenção da apresentação assim como o conteúdo produzido, de maneira improvisada, poucas horas antes do evento, foi de autoria do marido (Inocêncio) de uma das minhas tias materna.
Voltando aos registros fotográficos recentemente recebidos, como já falei, confesso que os mesmos provocaram uma remexida nas “gavetas” da minha memória. Sem pestanejar, para mim, tornou-se imperioso saber em que data deu-se aquela inauguração e, em ato contínuo, o nome de algumas pessoas que aparecem nas respectivas fotografias.
Com algumas primaveras na minha frente, bom de memória e curioso quando o assunto diz repeito à Vitória de Santo Antão, recorri ao amigo Paulo Lima. De “bate-pronto” respondeu-me alguns questionamentos e ficou de pesquisar outros. Com a boa vontade de sempre, acionou algumas amigas até chegar a senhora Silvana, filha do fundador do “Recanto Gaúcho”, o senhor Lody Ciochetta – já falecido.
A Churrascaria Recanto Gaúcho foi inaugurada no dia 08 de maio de 1971. Governava a nossa cidade, na qualidade de prefeito, o industrial José Augusto Ferrer. Não sei precisar até quando a casa funcionou no mesmo local. Segundo informações, o prédio foi demolido. Certa vez, há mais ou menos uns dez anos, almocei no restaurante que é comandado pela terceira geração do senhor Lody, localizado em Candeias, Jaboatão dos Guararapes. Também segundo informações, funcionando até os dias atuais.
É bom que se diga que – enquanto permaneceu ativo na nossa cidade – o Restaurante Recanto Gaúcho promoveu grandes festa e noitadas inesquecíveis. Durante décadas dividiu com o não menos famoso Restaurante Gamela de Ouro a preferência da sociedade vitoriense.
Outra coisa curiosa sobre o “Recanto Gaúcho”, que até então eu desconhecia e acredito que quase a totalidade dos vitorienses ignoram, é que no ano de 1975, por ocasião de uma visita ao Brasil, em que se deslocou do Recife ao município de Belo Jardim, para reencontrar um amigo religioso, o Cardeal italiano Albino Luciani almoçou no Restaurante Recanto Gaúcho, aqui em Vitória de Santo Antão.
O Cardeal Albino Luciani, três anos depois, em 26 de agosto de 1978, em Roma, foi eleito Papa. Para homenagear os dois últimos Papas – João XXIII e Paulo VI – Albino Luciani assumiu seu pontificado com o nome de João Paulo I. Foi o Papa de numero 263 na Igreja Católica.
Conhecido na Cúria Romana pelo apelido de “Papa do Sorriso”, o Papa João Paulo I recusou uma coroação formal. Também não aceitava ser carregado numa liteira, como os outros Papas. Foi pioneiro em adotar o nome papal duplo. Seu pontificado foi breve. Durou apenas 33 dias.
Pois bem, para marcar essa ilustre visita à Churrascaria Recanto Gaúcho, o seu proprietário, Lody Ciochetta, à época, produziu um espaço e fixou uma placa alusiva ao fato assim como, junto com religiosos, promoveu uma celebração no restaurante para marcar o auspicioso acontecimento. Vale lembrar também que a cadeira em que o ilustre cliente usou ficou separada e preservada em local de destaque, próximo ao palco da casa – os mais antigos devem lembrar bem.
Na qualidade de estudioso da história da nossa cidade – Vitória de Santo Antão – gostaria de agradecer a boa vontade de todos envolvidos nessa pesquisa, com destaque aos amigos Paulo Lima e Pedro Ferrer. A história é dinâmica e viva! Quem se dedica ao ofício historiográfico é um eterno estudante.
Para ilustrar essa dialética constante nunca pensei que poderia juntar, num raciocínio lógico e sequenciado, três acontecimentos/fatos que fizeram parte da minha infância. O “Recanto Gaúcho”, o aniversário do meu pai e o breve pontificado do Papa João Paulo I – muito comentado à época em função da sua brevidade – todos inseridos dentro daquilo que chamo de “centro do meu mundo”, isto é: Vitória de Santo Antão.
Parabéns pela informação tão importante…..maravilha….
Amigo Pilako, foi com muita satisfação que li esse belo documentário sobre fatos históricos tão importantes da nossa Vitória de Santo Antão.
É relevante esse resgate histórico da passagem do então Cardeal Albino Luciane em Nossa Cidade, fato que eu desconhecia.
Você criança já ensaiava o talento para as LETRAS.
PARABÉNS!
Amigo Pilako, é com muita satisfação que leio esses relatos de fatos históricos tão marcantes da nossa Vitória de Santo Antão.
É relevante o resgate histórico da passagem do então Cardeal Albino Luciane em Nossa Cidade.
O menino Pilako já demonstrava talento para as “LETRAS.”
PARABÉNS !!!