Interpretar, entender e escrever os fatos históricos não é algo tão simples. Uma narrativa desconectada dos elementos científicos que obrigatoriamente devem nortear à boa historiografia, mais adiante, será desidrata à luz dos inevitáveis questionamentos. Com efeito, não estou afirmando que os historiadores são imparciais. De uma forma ou de outra, bom ou ruim, quero dizer que não existe neutralidade nas narrativas históricas.
O dinamismo dos constantes acontecimentos, distribuídos na chamada linha do tempo, nos proporciona extraordinárias oportunidades pedagógicas de interagirmos com fatos distintos e, ao mesmo tempo, interligados. Nesse caldeirão, por assim dizer, gostaria de criar pontos de convergências entre dois movimentos – um no mundo e o outro em Vitória de Santo Antão – que aparentemente nunca se comunicariam , mas, se bem observado, agora, estão dialogando na mesma direção, ou seja: no sentido da miopia histórica.
Tendo como epicentro o país mais rico do mundo – EUA – movimentos populares/sociais deflagrados pela morte selvagem de um americano negro por um policial branco que, entre outras coisas, pedem pelo fim do preconceito racial, recentemente ganhou um capitulo irracional do ponto de vista da reação coletiva, isto é: destruir estátuas e monumentos. Esse tipo de ação, promovida por grupos irados e desorganizados mentalmente, é uma estupidez dupla.
Primeiro, porque não é destruindo estátuas de “vultos” do passado que se altera os fatos. Os acontecimentos de outrora – se aos olhos do tempo de hoje incômoda parcela da população – devem os mesmos serem pedagogicamente ressignificados, na perspectiva das gerações vindouras.
Segundo, porque devemos respeitar a vontade daqueles que escolheram e atribuíram algum valor ao referido homenageado. Não cometamos, por ignorância, o chamado anacronismo histórico, ocasião em que somos impulsionados a balizar os acontecimentos do passado com os olhos e conceitos do tempo atual, descontextualizando-os, assim, do “tempo e espaço” do fato ocorrido.
Já em nossa “aldeia” – Vitória de Santo Antão – o “apagão” racional, no quesito desprezo à memória dos nossos antepassados, tem nome e sobrenome e se alimenta de dinheiro público. Ou seja: vereadores e Câmera de Vereadores. Explico:
De um tempo pra cá, infelizmente, virou moda alguns vereadores , por indiferença, bajulação ou cálculo político, propor e alterar – com a anuência dos pares – nomes de ruas com a mesma naturalidade e simplicidade com que muda o nome do seu gatinho ou papagaio de estimação.
Nesse contexto duas tristes constatações: suas excelências desconhecem a história da cidade e jogam, também, uma espécie de “lama do desrespeito” em cima da memória dos parlamentares que lhes antecederam e, soberanamente, deliberaram pelas “justas” escolhas daquele momento.
Como já falei anteriormente, a história é dinâmica e os fatos se entrelaçam. Nos EUA, na Inglaterra ou em Vitória de Santo Antão os acontecimentos do passado e do presente ganham vida para dialogar entre si e promover, doravante, uma oportunidade de reciclagem nas ideias como também – algo que nunca poderia deixar de ser – respeito à memória daqueles que já fizeram a viagem sem volta e não estão mais aqui para se defender.
NO QUE TANGE O ASSUNTO INTERNACIONAL. SE AGIRMOS COM ESSA NATURALIDADE, BREVEMENTE TEREMOS UMA ESTÁTUA DE UM SUPREMACISTA BRANCO DA KKK, EM PRAÇA PÚBLICA.