Na UFPE: 50 anos do 1º Seminário Brasileiro de Crítica e Teoria Literária – por Marcus Prado.

Depois do 1° Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária do Recife, da UFPE (1960), organizado pelo reitor João Alfredo da Costa Lima, com a participação de Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Teles, Elysio Condé, entre outros, quase nada de marcante no gênero aconteceria na cidade.  Até quando, em março de 1973, há exatos 50 anos, os meios acadêmicos e literários, não só da capital, tiveram a oportunidade de participar de um evento que marcaria época e ficaria nos anais dos cursos literários de Pernambuco: o Iº Seminário Brasileiro de Crítica e Teoria Literária, promovido pelo Instituto de Letras da UFPE (1973), reunindo, durante 5 dias, um conjunto de especialistas dos mais representativos no Brasil naquela época.

Era notório o interesse de professores, pesquisadores, estudantes e estudiosos de áreas afins, além do Recife, vindos de lugares distantes, tendo em vista o temário previamente construído, que privilegiava o diálogo com grandes temas literários da época e que ainda hoje são atuais.

Foi seu idealizador o poeta, professor, ensaísta e crítico literário César Leal, ele que seria o “pai da Geração 65”, de quem me tornei amigo e parceiro durante muitos anos na edição semanal do Suplemento Literário do Diario de Pernambuco, na época, influente caderno de 8 páginas. Para cumprir o objetivo do seminário, César Leal escolheu uma comissão organizadora, da qual tive a honra participar, ao lado dos professores Leônidas Câmara, Piedade Sá, Edileusa Dourado, Marcus Accioly. Foram palestrantes: Afrânio Coutinho, na época, o mais influente crítico literário do Brasil, acadêmico da ABL e professor universitário, que falou sobre Literatura, métodos e objetivos, sobre a sua experiência acadêmica nos EUA e como teórico do New Criticism; (as ideias da Nova Crítica, muito em voga naqueles anos, um movimento da teoria literária surgido nos anos 20 nos Estados Unidos, que tinha como foco a separação do texto e do autor a fim de que o texto fosse objeto em si mesmo); Benedito Nunes, que se destacava pela sua intensa atividade acadêmica, como crítico literário e ensaísta, professor e conferencista internacional, que discorreu sobre a Estrutura da Obra Literária;  João Alexandre Barbosa, que nos trouxe um longo texto sobre a importância da metáfora no processo da criação literária; Lourival Vilanova, um estudioso de muitos saberes e erudição, sobre As aproximações da Literatura com o Cinema – Esboço Fenomenológico; Maria  Luiza Ramos, professora universitária de grande influência nos estudos avançados de literatura comparada e crítica literária, sobre  Fenomenologia da obra literária; Wilson Guarany, professor, crítico literário,  criador do  Programa de Pós-Graduação em Letras,  da PUCRS, sobre A estrutura do Texto Literário; Bernard Lubié, da Universidade de Sorbonne (Paris),  encerrou o evento com uma palestra sobre as correntes da Crítica Literária  da França.

Vencendo desafios e dificuldades, (foi pontual o apoio do reitor Marcionilo Lins), esse seminário teve por finalidade, na sua essência, a interpretação da obra literária como expressão artística, o lugar da teoria da literatura e da crítica de formação acadêmica, disciplinas cuja mais importante sistematização do século 20 pode ser localizada na clássica Theory of Literature (1949), de René Wellek e Austin Warren, autores de maior foco nos intervalos do evento. Também, a intenção do seminário era propiciar a troca de conhecimentos em áreas multidisciplinares, em especial Literatura, Teoria da Literatura, Crítica Literária e Criação Literária, com a finalidade de levar não só aos professores universitários como também aos mestrandos, doutorandos e alunos dos cursos de graduação um conjunto de propostas teóricas atualizadas nas áreas de estudos abrangidas pelo evento.

Marcus Prado – jornalista. 

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