por Géssica Amorim, do Coletivo Acauã.
Há quem possa e queira fazer seu dinheiro render fazendo aplicações nas variadas opções de investimentos com riscos mais ou menos elevados, como planos de previdência privada, ações na bolsa de valores, fundos imobiliários, tesouro direto e moedas e bancos digitais. Já o comerciante Edivaldo Paiva Ferreira, 78 anos, morador do Distrito de Sítio dos Nunes, em Flores, no sertão pernambucano, prefere investir o seu dinheiro em Pitú.
A cachaça pernambucana, produzida em Vitória de Santo Antão desde 1938, é vendida pelo bodegueiro (como Edivaldo gosta de ser chamado) há mais de 50 anos e ele garante que guarda, nos poucos metros quadrados da sua bodega e depósito de bebidas, mais de R$ 70 mil da bebida, que, segundo ele, dá mais quatro mil litros de aguardente.
E não adianta fazer a conta, multiplicar, por cima, o preço da garrafa pela quantidade de cachaça que Edivaldo garante possuir, porque, no seu bar, os preços variam de acordo com a data de fabricação da bebida. Entre as tantas garrafas e latinhas de Pitú comercializadas por ele, muitas estão armazenadas há mais de 15 anos, no mínimo.
“É porque eu gosto de estoque. Toda vida eu gostei de comprar mercadoria e guardar. Dinheiro, meu, é empregado em mercadoria, mesmo. Eu nunca paro de comprar. Hoje, eu vendo uma garrafa nova de Pitú por R$ 12, mas eu tenho garrafa, aqui, guardada há 17 anos. São as que eu vendo por R$ 65 e tenho certeza que, dessas, passam dos 2 mil litros aqui. Delas, vendi pra muitos lugares do Brasil. Já passaram por aqui compradores do Tocantins, do Paraná, do Pará, Maranhão e Brasília. Pouca gente vende Pitú tão antiga quanto eu”, argumenta o bodegueiro.
Nas prateleiras da bodega de Edivaldo é possível identificar rótulos de outras cachaças à venda, mas é evidente a sua preferência pela Pitú. “Aqui, eu também tenho a Serra Grande, a 51 e a Caranguejo, mas eu gosto de empregar o dinheiro na Pitú. Em 12 de dezembro, agora, vai fazer 13 anos que eu ganhei um caminhão F4000 e troquei por duas casas com 20 mil Reais de torna [de retorno]. Na época, eu peguei esse dinheiro e comprei todo dela [a cachaça Pitú]. Não tem jeito, quando sobra um trocado, eu emprego nisso. Eu ainda deixo uma reservinha no banco, pra um caso de doença ou de morte, mas continuo comprando”.
Nas modalidades mais comuns de aplicações financeiras, é relativamente simples resgatar o dinheiro aplicado, mesmo com prazos de resgate distintos. Em alguns casos, como os de investimentos de liquidez diária, em que não é necessário esperar uma data específica para resgatar o dinheiro investido, basta solicitar o resgate ao banco ou corretora de valores e as instituições cuidarão de todo o processo para que o dinheiro retorne a quem fez o investimento. Com Pitú não é bem assim.
Quando perguntado sobre o que poderia fazer, caso precisasse resgatar o dinheiro que investiu em Pitú, Edivaldo garante que isso seria simples, mesmo não sendo tão movimentado o comércio do Distrito onde mora. “Basta eu botar uma promoção, que isso aqui vai embora ligeiro. O movimento por aqui [em Sítio dos Nunes], hoje, comparando com o que já foi, é pouco, mas essa é uma coisa fácil de vender. Em todo canto, vai ter alguém que queira comprar se eu oferecer”.
Edivaldo vive sozinho. Os seus dois filhos moram em outros estados e a sua esposa trabalha e mora no município vizinho, vindo lhe visitar aos finais de semana. A casa do bodegueiro é praticamente dentro do seu depósito. Entre os cômodos, não há divisórias para conter as caixas e garrafas que já começam a tomar parte da sala.
O ritmo e quantidade das compras de cachaça de Edivaldo chegam a preocupar os seus familiares. “Eu vou comprando e guardando tudo aqui. A gente arruma espaço em todo canto. Agora, pelo gosto dos meus meninos e da minha mulher, eu vendia tudo e fechava a bodega. Mas é o que eu gosto de fazer, com o que eu gosto de negociar. Meu nome é Edivaldo Paiva Ferreira, mas, em todo canto, eu sou conhecido como Edivaldo da Pitú. Não penso em parar de fazer o que eu faço antes de morrer”.
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