Uma das maiores audiências da história da teledramaturgia brasileira, a novela “O Salvador da Pátria” foi sucesso absoluto de crítica, ocupando, segundo o IBOPE, a terceira colocação entre as tramas mais assistidas da TV nacional (atrás de Tieta e Roque Santeiro).
O que pouca gente sabe, porém, é que a novela teve o seu final alterado.
Isso mesmo.
Depois de 21 anos de ditadura militar, o país, enfim, voltaria a ter eleições diretas para presidente da República naquele ano.
Em entrevista à Folha de São Paulo, anos depois, o autor Lauro César Muniz relatou que foi obrigado a modificar o final da trama, dando um destino diferente ao protagonista Sassá Mutema, interpretado por Lima Duarte.
Segundo ele, dizia-se à época que, dada a origem humilde de ambos, havia uma semelhança biográfica entre Sassá Mutema e o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.
Na versão original da novela, o boia-fria analfabeto Sassá seria eleito prefeito da fictícia Tangará e, depois, tornar-se-ia presidente do Brasil.
Grupos políticos, então, pressionaram a cúpula da Rede Globo para não dar tal triunfo ao personagem.
O motivo era supostamente não beneficiar Lula na eleição contra Fernando Collor, que acabou sagrando-se vencedor.
Assim, Muniz redirecionou a abordagem do tema político para o policial, envolvendo uma organização do narcotráfico, que, ao final, seria denunciada por Sassá.
Sabias dessa?
Naquele mesmo ano, também, a Globo foi acusada de utilizar a novela “Que Rei Sou Eu?” como um instrumento de propaganda em favor do desconhecido Fernando Collor.
A telenovela apresentava o personagem Pichot como um vilão, cujas características eram induzidas para aproximarem-se, subliminarmente, da imagem do metalúrgico Lula, vale dizer, um popular, barbudo, supostamente inapto ao cargo, que chegaria ao poder para ser manipulado pelo bruxo Ravengar.
Do outro lado, estava o personagem de Jean Pierre, o mocinho, jovem, messiânico, performático, bem articulado e portador de virtudes morais de um verdadeiro “salvador da pátria”.
Definitivamente, não é de hoje que as telenovelas são instrumentos de propaganda eleitoral no Brasil.
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