Na antiga rua do Conde d¹Eu, na terra carioca, ao tempo de D, Pedro II, nasceu, a 16 de janeiro de 1859, Antônio Valentim da Costa Magalhães. Órfão de mãe, com um ano de idade, “permaneceu, escreve o erudito Artur Mota, sob os desvelos do ex-iremoso pai, que o criou com muitos mimos, por ser a criança débil, de compleição franzina”. Aprendeu, com uns tios, as primeiras letras. Era poeta aos 9 anos de idade, e publicou, aos 14, no “Amolador”, jornalzinho humorístico, conta um biógrafo, o primeiro trabalho literário. Matriculou-se, aos 18 anos, na Faculdade de Direito de São Paulo, e , cêdo, começou a brilhar com fulgurações de estrela de primeira grandeza, na imprensa e nos livros. Estreou com o “Ideias de Moço”, ensaio, no segundo ano acadêmico, publicando, um ano depois, o “Cantos e Lutas”. Batalhava e cantava. Valentim, na terra paulista, quando recebeu, em 1881, a carta de bacharel.
Regressando à Côrte, dirigiu, Valentim, seus passos, para o oeste do Estado do Rio, construindo, com as esperanças, sob as vistas de um tio, a banca de advogado, na linda Piraí. Não trazia, porém, esse ilustre carioca, o destino de vencer nas tribunas forenses. Eram outras suas tribunas. E, em 1884, ele surgiu na cadeira de professor de pedagogia, na Escola Normal, na terra onde nasceu.
Fundou e redigiu, em 85, a “Semana”, famosa revista, que marcou uma época de raro esplendor, na vida literária do Brasil. Nessa trincheira, enfrentou, Valentim, numa polêmica áspera, e memorável, narra Artur Mota, no “Vultos e Livros”, o poeta Luiz Murat, que fizera, “Vida Moderna”, sua poderosa fortaleza. Poeta, jornalista, contista de fino quilate, professor e romancista, escreveu, também, para o teatro, o grande Valentim. “Inácia do Couto”, “Doutores” e “O Conselheiro”, comedias, e “A Mulher Homem”, revista de parceria com Felinto de Almeida, deram-lhe nome e fama, na cena brasileira.
Pertencente à geração imortal de Machado de Assis, Coelho Neto, Aluízio e Artur de Azevêdo, Guimarães Passos, Lucio de Mendonça, Olavo Bilac e de Rodrigo Otávio, fundou, Valentim, na Academia Brasileira de Letras, a cadeira nº 7, sob o patrocínio de Castro Alves, o gênio da poesia brasileira.
Morreu Valentim Magalhães, em 1903. Repousou no seio amando e fecundo da terra Natal, aos 44 anos, o delicioso poeta do “Rimario”, o intimorato polemista que enfrentara Silvio Romero e Carlos de Laet, e que fôra na vida breve, agitada e fascinante, criatura amável, de “alma afetiva” impregnada de bondade e de “coração palpitante de devotamento”.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reuno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.