Na fazenda da saudade, encravada em Santa Rita do Rio Negro, povoado do município de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro, nasceu, a 20 de janeiro de 1868, Euclides Pimentel da Cunha. Era órfão de mãe, aos três anos, essa criança, que trazia, nas mãos, se é verdade a quiromancia, as linhas da glória e da tragédia. Partiu, a esse tempo, para Teresópolis, e aos 6 anos, corria, feliz, às margens do Paraíba do Sul, em São Fidélis, onde aprendeu a ler, “sob a direção, escreve Lacerda Filho, brilhante escritor sergipano, de um vago professor caldeira”.
Em 1879, mais ou menos, era, Euclides, aluno interno no Colégio Vieira Menêses, donde passou o Vitório da Costa, e depois para o Anglo-Brasileiro, terminando o curso no colégio Aquino, onde ouviu a palavra guiadora, e arrebatada, de Benjamin Cosntant. E antes dos 20 anos vestiu, na Escola Militar, a túnica de soldado. Era um rapaz tímido, nervoso e taciturno.
Agitava a alma do país, em 88, a questão militar. Dizia-se que o governo mudaria a Escola, da Praia Vermelha, para Angra dos Reis. Conspiraram os estudantes. Pregou-se a indisciplina. E anunciada a visita de Tomás José Coêlho de Almeida, ministro da guerra, do gabinete de João Alfredo, formaram as companhias dos cadetes. Fugiram os rebeldes ao compromisso. Um dos estudantes, porém, conta Afranio Peixoto, deu “alguns passos à frente”, e tentando quebrar o sabre, amolgou a lamina inteira”, e o atirou ao chão, exclamando:
– Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!
Desligado da Escola, Euclides partiu, a 15 de novembro de 1889, “a pé, de São Cristovão” e foi reunir-se aos antigos companheiros, envergando uma farda emprestada , na epopeia da Republica. Reingressou no Exército. Floriano Peixoto o promoveu, em 92, a 1º tenente. E, em 93, na revolta armada, num ambiente de terror e de incertezas, defendeu, Euclides, a bandeira da legalidade. Reformou-se em 96.
Acompanhou, no ano seguinte, o marechal Bitencourt, na campanha de Canudos. Forâ, a convite de Júlio Mesquita, o correspondente do Estado de São Paulo. E regressando dos sertões da Baia, foi reconstruir uma ponte, em São José do Rio Pardo. Escreveu Os Sertões, numa barraca, na sua oficina de trabalho.
Alcançou, Euclides da Cunha, em 1909, num concurso notável, no Colégio Pedro II, a cadeira de lógica. Farias de Brito foi classificado em 1º lugar e Euclides, ao segundo. E nesse ano, dando, apenas, dez aulas, um sobrinho que lhe roubou a honra conjugal, lhe tirou a vida. Morreu o autor do Perú versus Bolívia e do Contrastes e Confrontos, aos 41 anos de idade. Euclides da Cunha, no julgamento de Artur Mota, “era um bom, um justo, um honesto e corajoso, isto é um homem de caráter íntegro e indomável, e , um dia , ele , o poeta do Ondas, o “caboclo, jagunço manso”, retratou-se neste verso:
– “Misto de celta, de tapuia e grego.”
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.