Vida Passada… – Odorico Mendes – por Célio Meira

Na antiquíssima São Luís, do Maranhão, cidade que recorda o nome de um rei da França, e que é, ainda hoje, uma cidade-relíquia do Brasil colônia, nasceu Odorico Mendes, há 140 anos, a 24 de janeiro de 1799, no dia de Nossa Senhora da Paz. Fez o curso de filosofia, na Universidade de Coimbra, e cêdo, se revelou, no estudo dos clássicos portugueses, e das línguas estrangeiras, espirito agudo e penetrante.

Regressando ao torrão nativo, enamorou-se, perdidamente, da política. E em 1823, quando lord Cochrane, o almirante feroz do 1º Império, esmagou as ideias de liberdade dos nativistas, teve, Odorico, ao lado de Silva Lôbo, escreve a historiadora Carlota Carvalho, vida agitada de partidarismo político, eriçada de perigos. Combatia-o, com desassombro, o vigoroso jornalista Garcia de Abranches, redator D’ “O Censor”, e Odorico, conta-se, conseguiu, daquele lord  inglês, a prisão do vigoroso adversário. Roubando-lhe a liberdade, imobilizou, desse modo, a pena causticante do inimigo. E elegeu-se, a esse tempo, deputado.

Redigiu, Odorico, na sua terra, em 1925,  o “Argos da Lei”. E, de 1830 a 35, o “Constitucional”. Foram esses jornais, as trincheiras de suas ásperas batalhas, na vida pública. Pertenceu à Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, batalhando escreve um biógrafo, ao lado de Evaristo da Veiga. E figurou entre aqueles que, em 1831, destruíram o 1º Império, arrancando, a 7 de abril, a abdicação da pena do desajuizado filho de D. João VI.

“Poeta primoroso”, no conceito de Joaquim Manuel de Macedo, escreveu, Odorico Mendes, o “Hino à Tarde”, traduzindo as comédias de Voltaire, os poemas de Virgílio e poemas de Homero. A “Eneida Brasileira” e o “Virgílio Brasileiro”, traduções primorosas, fôram publicadas em 1854 e 58, e mais tarde, traduzidas, esse velho fulgurante escritor brasileiro, a “Iliada” e a “Odisséa”, que lhe deram renome e glória, na literatura clássica brasileira, no século XIX.

E um dia, em Londres, viajando numa estrada de ferro, morreu, Odorico, num vagão, aos 65 anos de idade. Morreu tranquilo, prolongando, pela Eternidade, a viagem que realizava pela terra inglesa.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

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