Em 1574, através da informação do erudito historiador Elísio de Carvalho, na selvagem Marins dos Tabajaras, ou na silenciosa Olinda, ao amanhecer do século XVII, ao dizer de Sebastião Galvão, nasceu d. Paulo de Moura, filho de s. Felipe, capitão-mór e governador de Pernambuco. Nobre e poderoso, casou-se d. Paulo com a prima Brites de Melo, formosa olindense. E dêsse matrimônio, nasceu Maria, encantadora flôr de Olinda, que tivera, órfã de mãe, meninice triste, sem carinho, e mocidade feliz, em Portugal, onde se educou e casou com p “Fidalgo de Mendonça Furtado, alcaide-mór de Mourão, comendador da Vila Franca de Xira e governador Mazagão”.
Viúvo, quando não fazia, ainda, três anos de casado, sentira, o nobre d Paulo de Moura, que se apagara, na vida mundana a estrêla de sua jornada. Procurou apagar, então, na solidão do claustro, na oração da penitência e no silêncio, a lembrança amável da inditosa companheira. E amortalhou-se, jovem e forte, renunciando a glória das armas e a riqueza das cortes europeias, num hábito de frade da ordem de São Francisco de Assis.
Devotado ao serviço de Deus, deixou a terra natal, a Olinda, de sua Brites e sua Maria pequenina, e atravessou o Atlântico, para viver, sofrer e morrer, na terra portuguesa. Foi guardião de seu convento, e, mais trade, dirigiu uma província franciscana.
E Maria, a filha única daquele que, no século, se chamou D. Paulo de Moura, foi a bisavó de Sebastião José de Carvalho e Melo, o famoso Marquês de Pombal, em cujas veias correu, impetuoso, sangue brasileiro, sangue pernambucano, sangue olindense. E no alto posto de provincial, morreu, esse frade bondoso, a 3 de fevereiro de 1693, ou aos 119, se veiu, ao 84 anos de idade, se nasceu em 1574, e de quem se conhece, apenas pelas notas históricas, o famoso “Sermão das Chagas de Cristo”, pregado no Mosteiro de Lorvão.
Teve, na terra, frei Paulo, vida tranquila. A dor que feriu, em Olinda, o peito do potentado, se transformou, na lama do frade, à luz radiosa do santuário, numa graça do céu.
Frei Paulo de Santa Catarina é uma figura abençoada por deus, na história famosa da Ordem dos Franciscanos.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.