Órfão de pai, aos 11 anos de idade, e quase na pobreza, estudou, o recifense Francisco de Paula Batista, a língua latina, no convento dos oratorianos, concluindo os preparatórios, no antigo Liceu Pernambucano. Obteve, a esse tempo, Paula Batista, as primeiras vitórias de sua longa e luminosa carreira pública, na política, na cadeira de professor e no jornalismo. Bacharelou-se, no Curso Jurídico de Olinda, em 1833, pertencendo à geração brilhante de Ângelo Ferraz, de Urbano Pessoa de Melo e de José Tomaz Nabuco de Aquino. Fizeram parte de sua turma, José Bento Figueiredo e Álvaro Teixeira de Macedo, poeta pernambucano, na primeira metade do século XIX.
Defendeu tese, em 34, e um ano depois, em maio, foi nomeado professor catedrático de Economia Politica e Teoria e Prática do Processo. Tinha 24 anos de idade. Antes de conquistar a cátedra de direito, exerceu, no Recife, os cargos de juiz municipal e de chefe de polícia. Instalada a Assembleia Provincial, Paula Batista, elegeu-se, deputado, alcançando aplausos na tribuna. Era orador elegante e magnifico.
Político, sob a bandeira dos conservadores, defendeu, em 43, o governo do barão da Boa Vista, fazendo ao Jornal Estrela, “diário baronista”, sua fortaleza de combate. E, em 48, na União, ao lado de José Tomaz Nabuco de Araújo, de Maciel Monteiro e do Padre Pinto de Campos, batalhou ao lado do governo, ferindo, de frente, os liberais “praieiros”. E essa atitude, ele manteve, bravamente, na Câmara Geral, em 1850, não poupando a sorte dos que foram vencidos, e nem a memória daqueles que tombaram, na luta armada.
Quando o Marquês do Paraná, chefiando o gabinete de 6 de setembro de 1853, iniciou a conciliação dos partidos, Paula Batista o acompanhou. Era o primeiro passo, desse político conservador, na direção do acampamento das forças liberais. E, na verdade, em 61, Paula Batista, na companhia Nascimento Feitosa, fazia sua nova profissão de fé política, no Constitucional, baluarte do partido liberal. Sofreu, nessa época, esse cristão novo, acusações tremendas. Envenenou-lhe a alma o Diário do Recife, a trincheira de Felipe Neri Colaço. E pouco a pouco, foi desaparecendo, o político, para renascer o mestre, que era um sábio.
Escreveu, Paula Batista, em 1855, o Compêndio de Teoria e Prática do Processo, “que é um modelo do gênero”, no julgamento de Clovis Bevilaqua, e em 60, o de “Hermenêutica Jurídica”. Mereceu, do governo, depois de 25 anos de magistério, o título de conselheiro.
Paula Batista, nascido no Recife, a 4 de fevereiro de 1811, foi, afirmam todos biógrafos, o maior professor da Faculdade de Direito até o aparecimento de Tobias Barreto, o gênio de Sergipe. Morreu aos 81 anos de idade. Há, à margem da vida desse homem, de sabedoria genial, que trazia rapé, escreve Faelante da Câmara, “nos bolsos do colete, como outrora dom João VI, nos régios bolsos calções de veludo”, um mundo de anedotas. E conta, o próprio Faelente: “Encontrei-o de uma vez, na rua, sobraçando, pachorrentamente, uma grande melancia das Cucuranas”.
Veneremos, no dia de hoje, o nome de Paula Batista.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.