a sofrer
este vento este ciclone
dos nervos e da carne e da mentira
a sofrer
esta angústia que delira
a sofrer o vazio de cada cara
a sofrer cada dia que não pára
a sofrer a estéril noite: o dia
a sofrer o limite a face fria
a sofrer tua memória alada
a sofrer o teu beijo impossuído
a sofrer a glória de não ser
a sofrer os teus olhos o teu espaço
a sofrer a distância a gravidade
a sofrer a saudade que mereces
o teu nada o teu tudo o teu cansaço.
in “Literatura a Artes” boletim
da S.A.C.V. – junho/1965
Marcus Antonio do Prado, nascido na Vitória crítico literário dos mais expressivos, responsável pela página literária do “Diário de Pernambuco”.