Debruçado sobre o muro aqui de casa, um pé de pitanga vigia a rua. Mulheres que vêm de bairros distantes passam, de braços dados, a admirá-lo.
– Êi, Maria, vê quanta pitanga!
As pitangas, suspensas no ar, parecem se balançar de vaidade, olhando para lá e para cá.
– Menina, e tem de toda cor!
Alguns pinguços também já as admiraram, lambendo os beiços, ébrios de desejo.
– Isso dá um tira-gosto arretado!
Sinto-me contente com tamanha dádiva. A eugenia uniflora, que dá em quintais, empertigada no canto do muro do meu terraço. Sei que a drupa globosa é comum na Mata Atlântica brasileira e na Ilha da Madeira em Portugal. Ao sol vesperal, parecem mimos caídos do céu, esses novelos de cálcio coloridos d’aquém e d’além mar.
Bem sei que alguns a futucam com um pau, no intuito de fazer um ponche, chupar minhas pitangas. Nem por isso vou “chorar as pitangas”, me aperrear, ficar me lamuriando. Aliás, lembra-me a célebre reflexão do revolucionário francês Babeuf: Os frutos da terra pertencem a todos, e a terra, a ninguém.
Sou um homem feliz, porque, em meio à struggle for life (luta pela vida), tenho tempo de parar para observar minhas pitangas e produzir esta crônica.
Mimoso abraço!
Sosígenes Bittencourt