Não há idade para se brincar o carnaval. Desde suas origens, ele aguça, aviva e renova as energias de todas gerações. Pai, filho, neto e bisneto. Não tem idade. Festa irreverente, de som de orquestra, carro alegórico e folião avexado com frevo no pé. Folião é assim: não tem hora pra chegar. Sai de manhã e só volta na manhã seguinte, e quando volta. Mas sempre acaba ficando para mais um bloco, nas ruas subindo e descendo ladeiras. Cansado, mas feliz, cochila algumas horas e depois de um banho já estava novo para outra folia. Assim foi o Manoel José de Souza, ou como todos o conhecem: Mizura, o folião das mil faces.
Não dá para falar de carnaval em Vitória de Santo Antão sem lembrar desse grande folião; Mizura já é ícone do carnaval vitoriense, destacou-se utilizando apenas de sua criatividade, irreverência e grande alegria, mas não é pra menos! Ele veio ao mundo em meio a folia, em 12 de fevereiro de 1933. Já nasceu ouvindo frevo.
Cultivou sementes carnavalescas nos clubes “A Girafa”, “O Camelo”, “ETzão”, e sua grande paixão “A Taboquinhas”, entre outros clubes que passaram por suas mãos.
Deixava ansiedade: “Qual será a fantasia de hoje?” – perguntavam-se as pessoas nas ruas da cidade. A cada dia de carnaval ele saia com uma fantasia diferente demonstrando sua criatividade e amor à folia carnavalescas. Ora, era um grande morcego, ora um bebezinho e outra vez foi até anjo (que por sinal foi destaque em um dos carnavais do Recife). Foram dezenas de fantasias, confeccionadas por sua esposa e até por ele mesmo.
Em 2000, para homenagear seus amigos foliões já falecidos, fundou o “Bloco da Solidão”, que saia pelas ruas da cidade com um carro de propaganda e um cordão de isolamento, onde apenas ele ficava no centro. Saia pelas ruas com muita alegria, parando em cada residência do amigo folião falecido homenageando cada um, a família do folião seguia o bloco, mas apenas ele ficava no cordão. Era o “Bloco da Solidão” que passava pelas ruas da cidade com o som anunciando os membros do clube, todos eram ele mesmo; do presidente-fundador ao porta-estandarte.
Mas o “Bloco da Solidão” chegou a seu fim com pouco tempo de vida; uma grave doença se apoderou do seu fundador deixando-o inabilitado para a folia. Passou alguns anos doente, chegando a falecer nos últimos dias de 2005.
Vitória de Santo Antão perdeu um inesquecível folião, talvez o último dos grandes foliões de época. Foram mais de cinqüenta anos de carnaval. E para cada dia de carnaval uma nova fantasia. E para cada fantasia uma nova alegria que ficava registrada no sorriso das pessoas que lhe esperavam nas ruas da Vitória.
O Carnaval da Vitória há muito está de luto. Ele nunca será o mesmo sem o grande folião que foi Mizura.
Pilako,
Venho agradecer, em meu nome e em nome dos meus familiares, a homenagem ao meu pai, Mizura, pelo seu blog. Obrigada pelo carinho e por nós fazer recordar de momentos inesquecíveis de nossas vidas.
Grande abraço!