Povo querido da Vitória:
Após ter sido convidado pelo amigo Pilako para publicar um artigo quinzenalmente neste conceituado veículo de comunicação, quero, inicialmente, agradecer ao ilustre conterrâneo por esta gratificante e valiosa oportunidade de expressar minhas idéias e conhecimentos e, ao mesmo tempo, deixar aqui patenteado que me sinto muito honrado com o gentil convite. Dito isto, nesta primeira publicação, quero me dirigir à família vitoriense para discorrer sobre a nossa origem cívica, o destemor do nosso povo, e a nossa tradição de lutas históricas. É oportuno justificar que fiz uso da expressão “família vitoriense” no singular, intencionalmente (em vez de “famílias vitorienses”), na certeza de que desta forma não perco a abrangência de me referir a toda a comunidade local, porque considero a população vitoriense uma única e grande família. Uma família unida no convívio salutar com a pluralidade de raças, traduzindo, aliás, a miscigenação do nosso povo, decantada pelo notável escritor pernambucano Gilberto Freire.
Uma grande família, unida pelo trabalho, seja voltado para o setor industrial, que nos gera divisas econômicas e fama internacional; no comércio intenso, que, inclusive, realiza uma das maiores feira-livre do estado de Pernambuco; seja na agricultura, transformando o município num verdadeiro celeiro, destacando-o como um grande exportador de alimentos naturais e um dos maiores produtores de hortaliças da região. Uma grande família, unida na diversidade de crenças religiosas, comum, porém, em servir a um mesmo Deus de amor, bondade e misericórdia. Uma grande família ordeira, amiga e hospitaleira, mas que não arrefece os ânimos e revela sua coragem cívica quando se trata de defender dignos propósitos como a liberdade democrática e as garantias individuais do ser humano, aliás, a bravura e o heroísmo são índole do nosso povo, o qual, já deu à história inúmeras páginas com demonstrações de destemor e ufanismo. Sobejam os exemplos: aqui nesta terra de heróis, teve início a Guerra dos Mascates, liderada pelo Capitão-Mor Pedro Ribeiro da Silva, visando acabar com a exploração comercial por parte dos “atravessadores” que atuavam naquela época; Na Guerra do Paraguai, Vitória viria a ocupar novamente posição de destaque na história, com o alistamento de Mariana Amália do Rego Barreto entre “Os Voluntários da Pátria”; Duas décadas antes da Abolição da Escravatura, Vitória já marcava espaço na luta por esse objetivo, com a fundação da Sociedade Auxiliadora de Emancipação dos Escravos; Mais proximamente, na segunda metade do Século XX, Vitória viria a chamar a atenção do mundo inteiro na luta pela Reforma Agrária, através do movimento revolucionário liderado pelas chamadas “Ligas Camponesas”, com destaque para o núcleo formado no Engenho Galiléia.
Entre todos os movimentos libertários que aqui tiveram origem, porém, considero a Batalha das Tabocas, que estamos a celebrar neste mês seu 374º aniversário, a mais importante, cujo episódio, conforme registra a nossa história, marca a vez primeira que os próprios brasileiros defenderam a Nacionalidade Pátria, nos conferindo o galardão de Berço da Nacionalidade Brasileira. Os fatos acima mencionados atestam que, ao longo dos seus quase quatro séculos de formação, Vitória demonstrou ser detentora de um povo bravo, trabalhador e que não teme enfrentar desafios e nem foge da luta pela liberdade e, por isso mesmo, um povo vocacionado para ser feliz. Daí, a minha satisfação de fazer parte desta grande família e o meu imensurável orgulho de ser vitoriense.
André de Bau – advogado e vereador da Vitória.
OBS: Reitero Preito de gratidão ao amigo Pilako.