A NUDEZ DE MARTHA DE HOLANDA – por Marcus Prado.

 

A ESCRITORA VITORIENSE MARTHA DE HOLANDA em tudo foi uma antecipada, antecipadíssima, corajosa, desobediente. Sua biografia, escrita por Luciene Freitas, merece o nosso reconhecimento e aplauso pelo notável esforço de pesquisa. Um episódio marcante de sua índole de rebeldia permanece ainda não revelado: aquela cena de nudismo, a única e mais bela jamais vista, com tamanha categoria e arte, nas terras antonenses.

Foi quando, ainda jovem, solteira, numa certa noite de verão, a autora de O DELÍRIO DO NADA teve como única alternativa e apelo de conforto, permanecer, por instantes, não demorados, quase nua, os belos seios soltos como pássaros no infinito, na varanda do sobrado em que morava na companhia dos pais, na antiga Farmácia dos Holanda vitorienses, na Rua do Comércio. No sobrado que pertenceu a Nestor de Holanda, Maria Belkiss e Diva de Holanda, hoje patrimônio histórico de Pernambuco por minha iniciativa, no Conselho Estadual de Cultura. Seios que pareciam os das ninfas dos bosques e dos contos de fadas, no exagero da poesia. Os seios de Martha, na sua alvura, na aragem fria que ela encontraria  naquele lugar, pareciam os seios de Duilia, da famosa narrativa de Aníbal Machado.

Martha era assim: provocação e sensualidade, eternamente desafiadora, chamamento ao desespero das horas sonhadas, sem perder a sua dignidade e altivez. Os olhos grandes, rasgados, de um brilho persistente, mesmo quando ela se afastava feito as ondas de um sino ficam para sempre soando no ar. O inesperado nessa noite quentíssimo, aconteceu: uma tia de Martha, católica praticante, que morava na mesma rua, noutro sobrado, viu esta cena de espontânea liberdade e bem-estar da nossa Martha, e exclamou, a voz alta de censura: OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPEIA? Martha respondeu de imediato: Não, mas contemplo daqui, tristonha, a lamentar, a DECADÊNCIA FÍSICA DE UMA GERAÇÃO.

Marcus Prado – Jornalista

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