Não é de hoje que regimes ditatoriais utilizam o esporte como uma ferramenta de propaganda política.
Neste nosso último retalho sobre a história das Copas, falaremos do mundial de 1978, vencido pela Argentina.
Até hoje, pairam fortíssimas suspeitas de que houve uma grande armação envolvendo os generais argentinos, com a complacência da FIFA, presidida pelo brasileiro João Havelange.
Em 1978, o país vizinho vivia uma sangrenta ditadura sob o comando do general Jorge Videla.
BR e ARG chegaram à semifinal do torneio e, como se igualavam em pontos, o saldo de gols seria o critério definidor da vaga na final.
O Brasil enfrentaria a Polônia e os argentinos iriam para o confronto com o Peru.
Em cima da hora, a FIFA mudou o horário da primeira partida, fazendo com que o Brasil tivesse que enfrentar a Polônia três horas antes do segundo jogo, de sorte que os anfitriões saberiam exatamente quantos gols precisariam fazer no Peru.
O Brasil bateu os poloneses por 3 a 1.
A ARG teria que vencer por mais de 3 gols.
O livro “Como eles roubaram o jogo” (D. Anthony) relata que o general Videla chamou o oficial da Marinha Carlos Lacoste e deu-lhe uma ordem: “garanta o resultado contra o Peru!”.
Lacoste contactou três oficiais que acompanhavam a seleção peruana e ofereceu entre 30 e 50 toneladas de trigo da ótima colheita que a Argentina fizera naquele ano.
Aí vem o detalhe: o Peru também vivia sob uma ditadura, comandada por Francisco Bermúdez.
Para o ditador peruano, o trigo seria muito mais importante do que um jogo, no qual a sua seleção já estava desclassificada.
Ou seja: o resultado não mudaria em nada o destino do Peru naquela copa.
Em 2018, Velásquez, ex-jogador do Peru, declarou que seis companheiros “se venderam”, incluindo o goleiro Ramón, que era argentino de nascimento.
Com todo o esquema montado, a Argentina fez sem muito esforço o largo placar de 6 a 0, classificando-se para a final e sagrando-se campeã do mundo.
O Brasil voltou com o honroso 3.° lugar, invicto e com a qualificação de campeão moral daquele torneio.
A quem interessar, recomendo “A Glória Roubada”, de Edgardo Martolio.
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