O 13 de Janeiro tornou-se uma data emblemática para os brasileiros que lutam pela preservação e salvaguarda do nosso patrimônio histórico e cultural, o dia em que foi criado o IPHAN (1937). E para os que sabem da grandeza e o legado da Escola Bauhaus, o núcleo de design mais influente do século XX. Os que ainda hoje estão lembrados da sua extinção, há exatos 90 anos, num dia 13 de janeiro (1933) têm muito a lamentar. O IPHAN e a Bauhaus, ao longo de sua história, foram atingidos de cheio pela navalha do arbítrio, mas souberam resistir. A primeira, durante o golpe militar de 64, sem falar da soma de perdas durante o governo do ex-presidente Collor, período nefasto para a mossa cultura. A segunda, durante os anos da maior devastação moral da humanidade, de 1933 a 1945, quando o governo da Alemanha era controlado por Adolf Hitler.
O IPHAN – Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o seu papel na história da construção/ampliação do conceito de Patrimônio no Brasil, além de ser uma das instituições mais legitimamente sérias e equipadas de corpo técnico do País, tem por finalidade preservar, em nível nacional, a riqueza dos acervos e monumentos históricos e arquitetônicos, além do patrimônio imaterial ou intangível, ou seja, o legado das gerações passadas, contribuindo para a compreensão da identidade cultural da sociedade que o produziu. Cabe-lhe igualmente responder pela conservação, salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Mundial e na Lista o Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, conforme convenções da Unesco, respectivamente, a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972 e a Convenção do Patrimônio Cultural Imaterial de 2003.
Teve, como seu primeiro presidente, aquele que seria o maior vulto brasileiro do seu tempo no campo da preservação histórica, o mineiro Rodrigo Mello Franco de Andrade, com ele, na mesma missão de pioneiros, desde os primeiros momentos, os pernambucanos Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Airton Carvalho, anos depois, com a presença de outro pernambucano: Aloisio Magalhães. Sabe-se que Aloisio (Um dos fundadores do célebre Gráfico Amador), deixaria a marca de uma trajetória reconhecidamente inovadora, competente, de maneira extremamente modernizadora, na expansão e ampliação das ações de preservação, onde há muito se esperava, sem falar da qualidade que imprimiu, com a sua equipe, nas pesquisas e publicações, priorizando a qualidade científica dos seus colaboradores. A importância da contribuição de Aloísio Magalhães no IPHAN está justamente em ter desenvolvido um corpo teórico aplicável à nossa realidade, tendo sido reconhecido, até hoje, como um marco, um dos principais pilares do aparelho cultural do Estado do seu tempo.
Dizer o que foi, em resumo, a Staatliches Bauhaus, comumente conhecida como Bauhaus, não seria possível num breve registro de Jornal. Tornou-se conhecida por ser visionária, de vanguarda e transdisciplinar. Os ideais da escola foram proferidos para além do pensamento tradicional de seu tempo. Era o sonho de todo estudante de Artes de qualquer parte do mundo. Ali, se concentrava uma parte da elite do que de maior importância havia não só na Alemanha nos campos do design, teoria da linguagem, história, artes gráficas, Fotografia, pedagogia, psicologia, física e matemática. A influência dessa Escola, fundada em 1919 pelo pintor Henry Van de Velde e pelo genial Walter Gropius, em Weimar, tem sido ainda hoje presente em numerosos países, destacadamente no Brasil. A começar por Oscar Niemeyer (um dos nomes mais ligados ao movimento da Escola no Brasil, embora tenha sido mais inspirado por outra vertente do modernismo, criada pelo arquiteto francês Le Corbusier). Eu citaria Lina Bo Bardi, arquiteta e urbanista ítalo-brasileira (que teve projetos no Recife, quando era secretário de Cultura o mestre Ariano Suassuna). Além dos nossos saudosos Aloisio Magalhães, Acácio Gil Borsoi, Lula Cardozo Ayres. É possível perceber na pintura e no paisagismo de Burle Marx estruturas geométricas elementares e cores que nos remetem ao mundo da Bauhaus.
Infelizmente, o nazismo, os exércitos do Terceiro Reich consideravam os ideais da Escola de Bauhaus “antipatriotas” e em janeiro de 1933, por ordem de Hitler, foi dado o prazo de um dia para ser extinta em definitivo. Há exatos 90 anos nesse 13 de janeiro.
Marcus Prado – jornalista