Contemporaneidade de Euclides da Cunha no caso da Amazônia – por Marcus Prado

Na foto: Mario Vargas LIosa e eu, no Rio de Janeiro……

A perda da memória, o esquecimento daqueles que muito contribuíram para a identidade não só cultural do Brasil, continua e é de fazer chorar. Por que tratamos nossos registros históricos com tanto descaso? A quem interessa um país sem memória? Um povo que não compreende suas referências e suas origens, perde a chance de reparar seus erros históricos. Revoltante ainda mais quando se perde a oportunidade de mostrar a atualidade do que nos foi legado. É o caso de Gilberto Freyre e sua vasta e prolífica obra, Artur César Ferreira Reis (o mais injustamente esquecido de todos entre os estudiosos da Amazônia) e o escritor fluminense Euclides da Cunha (1866-1909), autor de um dos maiores clássicos brasileiros, Os Sertões, para citar apenas três.

No debate atual sobre as denúncias, recorrentes ao longo dos tempos, que estampam violência e devastação nas terras indígenas da Amazônia, com índices de mortalidade de crianças e adultos que chocam o mundo, ( quase 100 crianças morreram na Terra Indígena Yanomami em 2022, segundo o Ministério dos Povos Indígenas, devido ao avanço do garimpo ilegal na região ), Euclides da Cunha deveria ser reconhecido como um dos pioneiros a alertar, com toda clareza, competência, seriedade e coragem, para uma história que parece sem fim: o desaparecimento maciço da floresta tropical, o desmatamento criminoso causado pela mão do homem, que acaba de alcançar a pior marca, 11,3%, desde o início do monitoramento, em 2015.

Em textos para jornais, de 1904 e 1905, o jornalista e escritor fluminense Euclides da Cunha já procurava alertar sob a perspectiva histórico-social, para a ganância criminosa do extrativismo, a agressão contra os povos indígenas, a devastação ambiental, as doenças, a exploração predatória dos recursos naturais da floresta, a destruição cujos responsáveis, no início, eram os caucheiros peruanos que exploravam a região em busca de látex, seiva retirada de espécies vegetais usada para a produção da borracha.

É o que destaca o Jornal da USP, na sua recente edição, com texto de Joyce Tenório. “Abrindo a tiros de carabinas e a golpes de machetes (um tipo de facão utilizado para poda de árvores) novas veredas a seus itinerários revoltos, e desvendando outras paragens ignoradas, onde deixariam, como ali haviam deixado, no desabamento dos casebres ou na figura lastimável do aborígine sacrificado, os únicos frutos de suas lides tumultuárias, de construtores de ruínas”. (Euclides da Cunha).

Foi um período que marcou profundamente a vida dos povos indígenas e da paisagem social dessa região, conta ao Jornal da USP o historiador José Bento Camassa, autor da pesquisa de mestrado “Os icebergs e os seringais: representações e projetos políticos nos relatos de viagem de Roberto Payró sobre a Patagônia (1898) e de Euclides da Cunha sobre a Amazônia (1904-1905) ”. Euclides chegou a propor a construção de uma ferrovia no território acriano para melhorar o aproveitamento econômico e promover sua integração com o espaço geográfico nacional, enfatiza José Bento Camassa na sua tese acadêmica, mostrando como Euclides da Cunha apresentava grande interesse para o Brasil contemporâneo.

Esta foi a impressão que tive de Mário Vargas Llosa, quando o entrevistei para o DIARIO DE PERNAMBUCO, mais de uma vez, durante a sua presença no Rio de Janeiro, no Hotel Glória, na reunião do Pen Clube Internacional, do qual era presidente. (1984). Ele, que seria Nobel de Literatura, já estava de malas prontas para uma viagem a Canudos, no início do seu famoso romance A GUERRA DO FIM DO MUNDO. Mário, então, estava por inteiro envolvido com o universo simbólico da obra de Euclides da Cunha.

Ariano Suassuna nunca escondia que, entre Gilberto Freyre e Euclides da Cunha, sua preferência era para o autor de “Os Sertões”, sem negar o seu apreço e respeito pelo autor de “Casa Grande & Senzala”. Canudos é uma página de heroísmo de nossa história, tema presente na trajetória do romance e do teatro de Suassuna. Canudos, mais do que espelho, em Suassuna, talvez seja uma miragem. Em verdade, algumas vozes da Ficção de Ariano, em menor grau, são trazidas pelos ventos de Canudos, não iguais aos ventos alísios e poeiras vindos da África, que fertilizam o solo amazônico.

Em razão do descaso dos últimos anos do governo federal, que desaparelhou de órgãos de fiscalização e desassistiu os povos indígenas, Euclides da Cunha é de uma atualidade notória. A mesma importância de reconhecida atualidade de Euclides da Cunha tem sido defendida pelo professor Francisco Foto Hardman que, desde o início dos anos 90, dedica parte de sua produção científica a Euclides, que viria chefiar uma missão diplomática como assessor especial do ministro das Relações Exteriores, Barão do Rio Branco.

Para a escritora Walnice Nogueira Galvão, “Os Sertões” tem que ser lido todos os dias para entender o que acontece com os pobres no país”.

Marcus Prado – jornalista

1 pensou em “Contemporaneidade de Euclides da Cunha no caso da Amazônia – por Marcus Prado

  1. Meu Deus! Quanta hipocrisia dessa turma!
    O elemento de vies meramente esquerdista se aproveita de qualquer esquema ou espaço jornalístico para criticar o melhor politico dos últimos tempos: Jair messias bolsonaro acabou com todo um esquema de corrupção apoiado por lacradores midiáticos, e, ainda deixou de repassar para “artistas” já famosos quantias milionárias de dinheiro público – mas só o criticam porque? dizem estudiosos que esquerdismo é doença grave de cunho mental!!!
    Dilma Roussef a “burra” que quebrou a Nação e foi escorraçada pelo povo brasileiro, permitiu que os dito índios (que a turma força a viverem isolados) tbm passassem fome? Ou o glorioso escritos do artigo acima escrito (artigo esse rsrsrs dentro dos mais sérios padrões jornalísticos nacionais) tá esquecido que fato idêntico ocorreu?
    (https://diariodopoder.com.br/brasil-e-regioes/ttc-brasil/governos-petistas-ja-registravam-aumento-no-numero-de-indigenas-mortos)
    É difícil ser brasileiro: nossa saúde mental tem lutar todo dia contra essa gama de inverdades “dizidas” pelos blogs e seus blogueiros….
    Lula roubou, foi preso….defendeu kit gay pra nossas crianças…deu dinheiro a Cuba, Venezuela….fez hidrelétrica lá fora; mas jornalistas do nível rsrs literário de Osman Lins insistem em obtusamente, ver o que a ideologia “ensina”.
    É por isso que eu digo: diploma no Brasil, e medalhinhas dadas em governos pelo PSB, PMDB, PSTU, só servem aos egos doentios.
    Mas, todo menino é um Rei né?

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