Vik Muniz vem sendo visto pela imprensa cultural do Rio de Janeiro e São Paulo como “o maior artista plástico brasileiro”. O seu currículo é fantástico, está sendo apontado como um dos mais caros do mercado de artes em Nova York. No entanto, para opinar sobre quem seria o maior pintor brasileiro dos nossos dias, eu escolheria o paraibano João Câmara, radicado no Recife. E assim o faço pelo que ele formula de indagações complexas, pela sua dramaticidade expressionista, sem deixar de ser acessível e, ao mesmo tempo, de forte erudição, transitando por diferentes meandros da história política do País, da arte, da mitologia. Ao ponto de ser visto por Francisco Brennand como “um pintor genial”. Genialidade inesgotável, indiscutível, sóbrio nos seus insólitos jogos de metáforas e analogias, pela inventividade na busca constante por fundir a arte, o homem, a vida. O Artista como gênio criativo. É assim que o vejo. Quem também fez a escolha do melhor, num longo ensaio, foi Ferreira Gullar, um dos maiores críticos de arte brasileira do seu tempo. O nosso João Câmara, premiado nacional e internacionalmente, era sempre uma referência nos trabalhos críticos do igualmente poeta Ferreira Gullar na sua coluna da Folha de São Paulo. Não foi por acaso, nem apressado, esse julgamento. Ferreira Gullar, como crítico exigente, altamente respeitado, era conhecedor da trajetória de João Câmara. Além de grande pintor (trabalha com tinta a óleo ou com tinta acrílica, sobre tela ou madeira), Câmara é dos raros na sua geração a estudar e a escrever, em profundidade, sobre a teoria da arte. Produziu durante vários anos artigos de crítica de arte, semanais, para o suplemento “Panorama Literário” do Diário de Pernambuco.Muniz ficou conhecido por usar materiais inusitados em suas obras como lixo, açúcar, chocolate, geleia, calda de chocolate, arame, pó, terra, até dinheiro picotado (!), etc. Trabalha num só ímpeto, com fotografia, pintura e escultura. Poderia ser visto por outro gênero de crítica como excelente fotógrafo, sem deixar de reconhecer a sua contribuição para a pintura. Já foi comparado alegremente com Gisele Bündchen das artes plásticas (Jornal O Globo, 22 de agosto de 2010). É o mais caro da Bolsa de Artes de São Paulo. (Uma obra ultrapassou US$ 300 mil num leilão). Torna-se estranho quando ele nos diz que toda a sua arte só tem começo. “O resto fica por conta do espectador”.
Há cerca de 20 anos, vindo ao Recife, cidade natal dos seus pais (ele, garçom, trabalhava no cais do Porto, e ela, atendente), surpresos ficaram os que viram Vik Muniz (conhecendo a sua arte de rebeldia e irreverência) passar uma tarde inteira fotografando o altar barroco da abadia do Mosteiro de São Bento (Olinda). Tema, aliás, de uma crônica de sua autoria na Folha. Parecia um piedoso monge da Ordem Beneditina, mas estava nascendo ali uma série de quadros/fotografias do festejado pintor, dessa vez com inspiração no Divino. “Imaginárias” seria o título, uma releitura de imagens históricas da arte sacra. Sobre a nova experiência temática, ele diria: “Quando você chega no contexto do modernismo e pós-modernismo, o artista, o intelectual, quase que por obrigação, tem que ser ateu e comunista. Eu não sou nenhum dos dois”.
Marcus Prado – jornalista