5 de março de 1983.
Bairro da Madalena, Recife – Pernambuco.
Maria Isabel Baracho era uma jovem professora de inglês, casada com o estudante de engenharia Lenivaldo Barbosa Lacerda, de quem estava grávida de três meses.
Às três da madrugada daquele dia, sem nenhuma razão aparente, foi morta por espancamento pelo marido, sendo encontrada amarrada no banheiro, coberta por um lençol.
O marido dizia que o filho não era dele, mas de um médico amigo de Isabel.
Afirmou que orou a Deus para conseguir cometer o crime e que, depois, “purificou” o corpo da esposa (com o feto morto na barriga) com um vidro de perfume de alfazema.
O caso causou profundo impacto na sociedade pernambucana e gerou muita comoção social, acendendo a luta do movimento feminista em Pernambuco.
Contraditoriamente, Lenivaldo alegava insanidade mental, sendo conduzido ao Manicômio Judiciário de Itamaracá/PE (nome que se dava à época), de onde conseguiu fugir, em 14.09.1983, sendo recapturado na década de 1990.
Levado a júri popular, em 04.06.1991, foi condenado a 17 anos de prisão em um julgamento que durou mais de dez horas.
Os jurados rejeitaram a tese da defesa de que Lenivaldo não poderia ser responsabilizado por ser esquizofrênico.
Laudo psiquiátrico feito no Manicômio Judiciário foi lido em plenário e apresentado aos jurados.
Segundo o psicólogo especialista em psicologia criminal Rilton Rodrigues, o próprio Lenivaldo teria confessado ao psiquiatra Cláudio Duque, responsável pelo laudo, que mantinha relações homossexuais durante o seu casamento e que havia tido uma relação homossexual na noite que antecedeu o crime.
Segundo Rodrigues, Lenivaldo associou os conflitos internos que vivia com a sua sexualidade à frustração acumulada que carregava por ser sustentado financeiramente pela mulher.
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Disse Rilton Rodrigues em plenário: “Lenivaldo sentia-se incapaz de ser homem perante sua mulher, seus sentimentos de inferioridade o levaram a cometer o crime. Ele acabou por destruí-la, impelido pelo subconsciente”.
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O crime ficou conhecido perante a opinião pública como o caso do “monstro da Madalena”, em alusão ao bairro do Recife onde Maria Isabel fora assassinada.
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Independente de quaisquer outras questões, o ponto central é sempre o mesmo: a objetalização/inferiorização da mulher e a demonstração de desprezo, controle e poder sobre o seu corpo e a sua vida.
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Encerramos com este retalho de hoje a série de cinco retalhos que publicamos neste mês de agosto sobre feminicídios bárbaros que marcaram o país, buscando nos somar às reflexões da campanha do Agosto Lilás.
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Você, mulher, que nos lê neste momento, se estiver sendo vítima de violência doméstica, não se cale.
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O silêncio pode matar.
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☎️ 180
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Agradeço à querida amiga @evangelaandrade2 por ter nos trazido a sugestão do retalho de hoje.
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