Por ocasião do recebimento do nosso Título de Cidadão Vitoriense (Antonense), concedido pela Câmara de Vereadores da Vitória, indicado pelo vereador Doutor Saulo Albuquerque, abaixo, segue, na íntegra, nosso discurso.
Na qualidade de pesquisador, especialmente pesquisador da história local, faço questão de contextualizar esse momento.
Mas antes, gostaria de agradecer à Câmara de Vereadores pela honraria, em votação unânime do conjunto desta legislatura, e em especial ao vereador e amigo Saulo Albuquerque pela iniciativa da proposta, hoje, aqui, materializada em Sessão Solene.
Ao término deste ato cívico, sairei por aquela porta mais forte, para seguir caminhando na mesma trilha, na mesma direção, só que agora de “papel passado”, devidamente formalizado, tal qual o destemido conterrâneo, Pedro Ribeiro da Silva, quando, em 1710, marchou na direção do litoral para escrever seu nome, com letras garrafais, na Guerra dos Mascates.
Esse, é o sentimento reinante.
Continuar construindo e edificando o que existe de mais sublime à relação que liga o sujeito ao local que vive, até porque, como está escrito na página principal do meu blog, desde o inicio do seu funcionamento há mais de 13 anos: “O Centro do Meu Mundo é a Minha Cidade”.
Pois bem, e o que significa contexto, esse termo tão importante para a ciência que estuda a história?
Contexto, entre outras definições, é a inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação.
Neste caso em tela, primeiro, vamos ao fato:
O fato casual que desencadeou esse momento solene, neste Poder Legislativo, não tem muita distância temporal. Ocorreu há pouco mais de meia dúzia de meses, no Pátio da Matriz, em um encontro ordinário entre membros do grupo que autointitulou-se “Missão Cultural”.
“Do nada”, como diz os mais jovens, surgiu um papo, que nem lembro exatamente como começou, quando, da parte do amigo Paulo Lima, saltou uma frase em minha direção, que terminava com um misto de exclamação e interrogação: “quer dizer que você não nasceu em Vitória….?”
Sem pestanejar, o mesmo arrematou: “daria um bom título de cidadão vitoriense……”
Em rápidas palavras, na ocasião exposta, expliquei as condições e os motivos pelos quais nós – meus irmãos e eu – não nascemos em terras antonenses.
Eis que, tempos depois, numa manhã qualquer, telefonou-me o amigo e parlamentar desta “Casa do Povo”, Doutor Saulo Albuquerque, perguntando se eu estava em meu escritório. Com minha afirmativa, em ato contínuo, com toda educação que exala da sua essência, tornou-me a perguntar se naquele momento ele poderia ir ao meu encontro. Sem pestanejar, disse sim!
Logo em seguida, em uma clássica visita de médico cirurgião – objetiva e rápida -, sem rodeios e delongas, após os cumprimentos protocolares, foi direto ao ponto: você aceitaria ser condecorado com um título de cidadão vitoriense?
Por dois motivos primários, não poderia eu, de maneira alguma, negar essa honrosa condecoração, mesmo achando, em silêncio, naquele momento, que a mesma poderia gerar-me uma espécie de “cidadania ao quadrado”.
Antes do doutor Saulo concluir sua indagação, com relação à minha permissão, para seguir com os protocolos necessários neste parlamento, lembrei da satisfação do nobre doutor, por ocasião do recebimento do seu título de cidadão antonense, quando reuniu, em ato festivo, realizado no Clube Abanadores “ O Leão”, além de familiares e amigos, os “gregos e troianos” do mundo político contemporâneo, da terra desbrava pelo português Diogo de Braga.
Como disse, dois motivos primários não davam-me o direito de negar tal honraria.
O primeiro, por se tratar do Doutor Saulo, uma pessoa com a qual sempre tive a melhor das relações.
O segundo, por ser algo muito importante para qualquer pessoa, sobretudo para os que conhecem a gênese, os efeitos e os desdobramentos dessa verdadeira celebração, no sentido da inclusão cívica.
Pois bem, e aqui estou nesta tribuna, vivenciando o tempo presente desse momento único.
Contudo, não posso deixar de lembrar que a minha mãe, Anita Garilbaldi Melo de Vasconcelos Barros, que também foi condecorada com um título de Cidadã Vitoriense, no início da década de 90.
O referido título para “Dona” Anita, minha mãe, fora uma indicação do então vereador José Luís Ferrer que, com sua esposa, Lêda, também participavam do Lions Clube das Tabocas, juntamente com meus pais. .
Dona Anita não gostava da exposição da vida em sociedade. Nunca gostou de badalações e não carregava em si a chama acesa da fogueira das vaidades.
Aliás, por coincidência, vale lembrar, presenciei o momento em que o portador da Câmara chegou a nossa residência para entregar a correspondência, dando conta da aprovação do já mencionado título.
Detalhe: diferente de mim, ela não havia sido consultada com antecedência. Tudo resolvido e combinado entre o referido parlamentar e o meu pai, “Seu” Zito Mariano.
Ao abrir a correspondência, ela não gostou do conteúdo. Deu brabo: disse que não iria receber coisa alguma. Que não havia feito nada para merecer aquele título.
Semanas se passaram e, como dizia meu pai, ela amansou.
Agradeceu a Zé Luís, participou da solenidade, leu um bonito discurso e ainda contou com a presença de todas suas irmãs, que vieram do Recife para prestigiar aquele auspicioso momento, inclusive, uma delas, Adir, muito doente, já em fase terminal.
Essas seriam, portanto, as primeiras considerações que gostaria de compartilhar com todos vocês.
Em ato contínuo, doravante, por conta deste título, terei que responder a um sem número de pessoas a seguinte pergunta: e tu num nascesse em Vitória não foi?
Não esqueçamos que para uma boa resposta, sempre que possível, precisamos contextualizar os acontecimentos.
Nesse caso, faz-se necessário buscar nossas origens familiares para um completo esclarecimento sobre a minha relação com Vitória de Santo Antão.
Aliás, permitam-me:
Não vou perder essa oportunidades para uma rápida introdução à história do nosso torrão.
Por ocasião da sua fundação, em 1626, chamada de “Cidade de Braga”, depois “Povoado de Santo Antão da Mata”, mais adiante, Freguesia de Santo Antão, Vila de Santo Antão, Cidade da Vitória e, só a partir de 1º de janeiro de 1944, Vitória de Santo Antão, ou seja: só há pouco mais de 80 anos é que ostentamos o nome atual – Vitória de Santo Antão.
Explicando, então, nossas origens familiares:
Por parte de pai, precisamos ir até à localidade do Caricé, atualmente já bem urbanizada. Na segunda metade do século XIX, viveu, lá, o casal José Mariano da Silva e Francisca Isabel de Barros. Que foram os pais do meu avô paterno, José Mariano de Barros, “Seu” Zezé Mariano. Que foi casado com Laura de Lemos Vasconcelos que teve sua origem familiar nas terras do Engenho São Francisco.
Zezé e Laura, pai e mãe, respectivamente do meu pai, José de Vasconcelos Barros ( Zito Mariano).
Papai nasceu no dia 25 de junho de 1928, exatamente numa das casas que circunda a atual Praça Severino Ferrer de Moraes, localizada no bairro da Matriz.
Na nossa ancestralidade materna, temos origens plantadas lá no Engenho Arandú, do meu trisavô, Coronel Manuel Carneiro de Freitas, pai e sogro, respectivamente, dos meus bisavós, Maria José e Antônio, que se uniram em um amor proibido numa noite enluarada do mês de abril de 1880.
Desse matrimonio, inicialmente proibido, entre Antônio e Maria José, nasceram três filhos. O caçula deles, veio ao mundo exatamente no dia 23 de março de 1895, em um prédio que servia de comércio e moradia para a família, na Antiga Rua José Leite, número 02, na localidade que hoje conhecemos como Cabanga.
O meu avô materno, ganhou projeção na nossa cidade e fora dela, como Doutor Célio Meira. Ele foi casado com a minha avó materna, Alzira Valois, filha de tradicional família antonense, que contraíram matrimônio em 20 de janeiro de 1919.
Dessa união, 1 filho e 8 filhas (uma de criação). Dentre as quais, minha mãe, Anita Garibaldi Melo de Oliveira Valois que nasceu na cidade do Recife, em 03 de junho de 1932.
José de Vasconcelos Barros, Zito Mariano e Anita Garibaldi, começaram a namora num baile de carnaval, no Clube “ O Leão” e após 5 anos de namoro e 5 de noivado, se casaram num sábado, 21 de maio de 1955, na Igreja Matriz da Boa Vista, na cidade do Recife.
Dessa união matrimonial, nasceram 11 filhos:
Pela ordem: José, Josenita, Célio, Geraldo, José Mariano, Lauro, Eliane, Luciana, Alzira, Laura e Cristiano, esse que vos fala. Dos 11 filhos, 8 estão vivos.
Precisamos, mais uma vez, contextualizar, essa narrativa. Isto é:
Os motivos pelos quais, nossos pais, com raízes familiares profundas na Vitória de Santo Antão, como vimos anteriormente, tomaram a difícil decisão de não terem seus filhos nascendo no solo mãe.
Por ocasião do nascimento do primogênito, José, que foi o primeiro e único filho a nascer na residência da família, à época, localizada à Rua Horácio de Barros, no 113, exatamente no dia 25 de março de 1956, num sábado que antecedia à celebração católica do Domingo de Ramos, um fato trágico marcou e mudaria, definitivamente, a história da vida familiar, do casal Zito e Anita.
Ele, o nosso irmão, José, fora sepultado no dia seguinte ao seu nascimento. Dois motivos, supostamente, teriam motivado sua prematura morte:
O primeiro, teria sido uma queda, sofrido por minha mãe, dias antes do parto.
O segundo, a não assistência adequada da parteira que foi obrigada a se dividir entre dois partos, simultâneos, em endereços diferentes: O de Mamãe e o da professora Inês Bandeira.
Traumatizado e assustado, logo no nascimento do primeiro filho, o casal, Zito e Anita, juntos, decidiram que o nascimento dos próximos filhos aconteceriam na cidade do Recife.
Esse trágico acontecimento familiar e os seus desdobramentos, portando, foram os motivos pelos quais, meus irmãos e eu, não nascemos em Vitória: somos todos recifenses de nascimento.
Eu, o mais novo de todos, assim como a maioria dos meus irmãos, nasci no coração da Cidade do Recife, numa maternidade, localizada na Avenida Conde da Boa Vista.
Nascido em 26 de dezembro de 1967, desde os tempos da tenra idade, habitei o universo da Vitória de Santo Antão, de fisionomia cinzenta, com muitas ruas centrais ainda de chão batido e pouco iluminada, mesmo no entorno da Igreja Matriz de Santo Antão. Meu universo inicial foi a Avenida Silva Jardim se prolongando, mais adiante, ao Pátio da Matriz.
Meu mundo consumidor de criança se limitava a dois pontos comerciais: a venda de Luizinho e à Lojinha de “Seu” Pedro. Ambos numa circunscrição territorial num raio de 100 metros de distância da casa de número 209, da Avenida Silva Jardim.
Com minhas irmãs e um conjunto de vizinhos, de idade semelhante, escalamos todos os galhos das árvores dos nossos quintais. Sou de um tempo, muitos aqui lembram bem, das brincadeiras coletivas e presenciais.
Invariavelmente, após o jantar, o nosso playground se materializava na hoje movimentada e frenética, Avenida Silva Jardim. Detalhe: sem sermos incomodados pelo vai e vem dos carros. Motocicleta, naquela época, bem diferente de hoje, era assemelhado a um bicho de 7 cabeças.
Em compensação, naquele tempo, assistíamos com certa frequência, as “touradas da Espanha” em plena via pública, quando um “boi brabo”, prevendo sua hora derradeira, teimava em não seguir obedecendo aos seus algozes, no caminho para o matadouro local.
Tive o privilégio de ocupar a Praça Dom Luiz de Brito, naquele tempo ainda de chão batido, como espaço para a hora do recreio, uma vez que os meus primeiros contatos com as letras ocorreram na Escola da Professora Regina – prédio vizinho ao Clube Leão.
Após a Primeira Eucaristia, ocorrida na Matriz de Santo Antão, no dia 09 de novembro de 1976, sob a liderança do sempre respeitado Padre Renato da Cunha Cavalcanti, na qualidade de aluno, também ocupei, por mais de uma vez, o palco do auditório do Colégio Nossa Senhora das Graças para as sempre prestigiadas apresentações festivas, principalmente, do dia das mães.
No Colégio Municipal 3 de Agosto, além de estudante por vários anos, fui atleta campeão de handebol, quando ainda pertencia à categoria dos que possuíam menos de uma dúzia de anos.
Subir e descer o nosso tradicional trepa bode e remendar, às escondidas, os trejeitos do sempre temido Doutor Mário Bezerra eram as grandes transgressões comportamentais daquele recorte temporal.
De posse da primeira bicicleta, de marca Caloi, na cor vermelha e de ano 1979, os horizontes territoriais, locais, para exploração foram demasiadamente dilatados.
Não irei, evidentemente, revirar os arquivos de criança que estão guardados nas muitas gavetas da memória, para não me alongar, mas poderia descrever, com riqueza de detalhes, cada palmo que descobri na minha Vitória de Santo Antão, até dos “pecados” celestiais quando, por traquinagem mesmo, apagava as velas, fixadas pelos fiéis católicos, em devoção, nas caixas das almas espalhadas, e ainda entupia, com pedras, os espaços dedicados à oferta em moedas.
Desde sempre, gostei de participar das atividades coletivas: quermesses religiosas, Natal, Ano Novo, Carnaval, São João, jogos estudantis, feira de ciência, futebol nos campos de peladas, rachas de bicicleta e tudo mais que se tinha direito de fazer.
O que dizer, então, das aventuras com destino ao Monte das Tabocas, nas solenidades cívicas do dia 3 de agosto?
Dos tempos de jovem, o desejo de participação seguiu no mesmo ritmo, imbuído do mesmo sentimento. Os exemplos de casa, dos meus pais e dos meus irmãos mais velhos apenas endossava o nosso envolvimento com as atividades sociais e coletivas. Como diz o pensador: “ a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.
Ao ingressar no conjunto da vida dos adultos, à qual, diferente do mundo encantado e lúdico das crianças, sonhador e aventureiro da juventude, ninguém mais poderá agradar a todo mundo, até porque a vida adulta se configura numa espécie de “estrada de conflitos” em que devemos evitar os trechos em contramão, sempre respeitar a sinalização vigente, não permanecer por muito tempo nos caminhos indesejados, quando necessário manobrar, no limite da segurança, o comportamento e mudar rapidamente na iminência de uma colisão fatal para continuar viajando no transporte coletivo do mundo da existência, no sentido do trajeto sinuoso e misterioso, de forma suave, natural, equilibrada e definitivamente edificante e profícuo, sempre guiado pelo farol do ineditismo, pois, nessa viagem, nunca haverá de ter um caminho que nos leve ou nos coloque no ponto da partida.
E é nesse mundo, dos adultos, que tomo a decisão de casar com Soraya de Melo Breckenfeld, em 08 de abril de 2000, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, localizada no bairro de Água Branca para, juntos, confeccionarmos o maior de todos os patrimônios: nosso filho Gabriel, hoje, com pouco mais de 21 anos.
Com o imperioso amadurecimento, novas definições são necessárias. Definições profissionais, nova configuração familiar, novos ciclos de amizades, posições políticas em sintonia com o que verdadeiramente se pensa e ainda, dialogar com uma sociedade gigante, vulnerável a todos os tipos de questionamentos, aos quais, de uma forma ou de outra, temos obrigação de prestar contas , principalmente aos inquisidores, cada vez mais implacáveis que se apresentam de forma remota, através dos algoritmos, muitas vezes manipulado pela chamada IA – ou seja: Inteligência Artificial do mundo virtual, irreversivelmente, doravante, mais real e presente no nosso cotidiano.
Mas se aqui estou, nesta casa que representa a pluralidade do pensamento político democrático da nossa cidade, sendo condecorado com um Título Honroso, é porque imagino que seja merecedor, possivelmente pela nossa efetiva contribuição enquanto cidadão, chefe de família, profissional de várias atividades laborais, pelo sentimento altruísta na direção das várias entidades sem fins lucrativos e pelo legado que continuamos a construir, naquilo que chamamos de Educação Patrimonial.
No nosso jornal eletrônico, intitulado Blog do Pilako, por exemplo, desde o início da sua operação até os dias hoje, já postamos mais de 29 mil matérias com conteúdo genuinamente antonense. Esse legado não é promessa, ele já existe e já está disponível na internet, gratuitamente, a todas as pessoas.
Inclusive, permitam-me dizer: é o espaço virtual mais indicado pelos professores quando se tratada de conteúdo e conhecimento da historiografia local.
No nosso projeto “Corrida Com História”, algo sus generis no planeta terra, é algo que, concretamente, desperta e transforma nas pessoas de todas as idades, à percepção e o interesse pelos fatos locais e pela história dos nossos antepassados.
Com alegria, entusiasmo e verdade adaptamos a linguagem, muita vezes densa e enfadonha dos livros de história, para uma comunicação rápida, alegre, curiosa e objetiva, justamente para despertar o interesse dos que nutrem pela cidade o sublime sentimento de pertencimento.
Indiscutivelmente, o nosso projeto, num só tempo, esportivo e educativo é aprovado pela cidade inteira e desejado e cobiçado alhures.
Pensar coletivamente, na prática, se configura em colocar-se entre todos. É um estilo de vida que vai muito além do interesse das conveniências, das retóricas rebuscadas e midiáticas. Pensar coletivamente é sempre ter, concretamente, o desejo de contribuir.
E é nesse sentido contributivo, que gostaria, com a permissão dos parlamentares desta Casa, de deixar, aqui, enquanto estou recebendo esta importante comenda, que retrata um momento ímpar da minha existência, uma sugestão que julgo, pela sua magnitude histórica, ser um projeto não apenas de um vereador, mas do conjunto deste parlamento, que hoje se utiliza deste prédio histórico que, diga-se de passagem, possivelmente é a única edificação do nosso torrão que deu guarida aos três poderes constituídos, ou seja: Poder Executivo, Poder Judiciário e Poder Legislativo, em tempos distintos, valendo salientar.
Com relação à sugestão, refiro-me ao nosso gentílico. Mas o que vem a ser gentílico?
Gentílico é um termo utilizado para designar o nome dado aos habitantes de uma determinada localidade, seja ela uma cidade, estado, país ou região. É uma palavra que deriva do latim “gentilis”, que significa “relativo a uma mesma família ou povo”. O gentílico é uma forma de identificar e diferenciar as pessoas de acordo com sua origem geográfica, sendo um elemento importante para a construção da identidade cultural de um local.
Pois bem, sermos identificados, apenas por vitorienses, não nos define com precisão, cabendo perguntar: você é vitoriense de que estado?
Portanto, este Poder Legislativo, verdadeiro e legítimo espaço de representação da nossa gente, instalado no contexto da elevação à categoria de “Vila” – Vila de Santo Antão, em maio de 1812, poderá nos presentear, se assim achar conveniente, por ocasião da passagem dos 400 anos de nossa fundação, que acontecerá em 17 de janeiro de 2026, ao acrescentar, de maneira oficial o nosso segundo gentílico, o Antonense, este, sim! Uma representação única e indubitável que expressa, verdadeiramente, as nossas origens.
Portanto, ao final dessas minhas palavras, espero haver conseguido transmitir, de maneira plena, minha satisfação. Minha alegria e também a história dos meus ancestrais que, como já falei, tem raízes profundas fincadas nessa circunscrição territorial que hoje chamamos de Vitória de Santo Antão – que também ostenta, com orgulho, o título de Capital da Zona da Mata.
Com ou sem “cidadania ao quadrado” , o fato é que, agora, através do “papel passado”, sou, indiscutivelmente vitoriense, e/ou antonense.
Certamente, Doutor Saulo, se meu pai, Zito Mariano estive ainda no mundo dos vivos, estaria feliz pela sua indicação e pela aprovação deste reconhecimento, pela Câmara. Mas não poderia deixar de dividir com minhas irmãs e meus irmãos esse reconhecimento, pois assim como eu, todos nasceram na cidade do Recife, mas foram e são atores importantes, cada qual no seu quadrante, na construção e engrandecimento do nosso lugar.
Uma sociedade não se constrói apenas com sonhos, projetos e palavras. Aos olhos da história, por compreender, construir e usar essa ferramenta da ciência de maneira tão vibrante e responsável, espero que o meu esforço , no sentido da construção e edificação coletiva, seja útil a todos:
Aos mais velhos e aos mais jovens, mas sobretudo aos que ainda irão nascer. Até porque, permitam confidenciar-lhes: sou uma espécie de obra de mum mesmo!
Concluo esta fala, lembrando as palavras do ativista social e jornalista antonsense, Gomes Silvério, que trazia, sempre no alto da primeira página do seu jornal, “O Liberal Victoriense”, de 1869, a seguinte frase: “QUANDO A LIBERDADE PERIGA, TODO CIDADÃO DEVE SER UM REVOLUCIONÁRIO”.