Poesia de Deborah Brennand inspira exposição de arte – por Marcus Prado.


É notório que a curadoria no contexto das artes visuais consiste de uma cadeia de complexas etapas, desde a concepção até a finalização: a multiplicidade de linguagens, a inserção da obra no espaço, a relação entre obra e espectador. Não há diferença de rigores, competência, escolhas, diálogo entre artistas e mediação cultural com o público, bom gosto da primeira à última etapa.

Uma das etapas primordiais, além de uma qualificada e bem produzida curadoria, é o Catálogo de apresentação, não só pela excelência gráfico-visual, mas pela qualidade do texto, que determina, entre as demais etapas, o sucesso de uma amostra. Dou como exemplo o Catálogo da monumental exposição “O Tesouro dos Reis. Obras-primas do Terra Sancta Museum”, da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 2023). Elogiado por sua primorosa edição de texto e qualidade gráfica de altíssimo nível, o catálogo mostra como foi o esforço da diplomacia internacional para a produção da rica amostra. O projeto, que durou cinco anos para a sua inauguração na Fundação lisboeta, destaca obras artísticas de ourivesaria, têxteis e mobiliário reunidos durante séculos para o culto e ornamentação da Basílica do Santo Sepulcro e de outras igrejas supervisionadas pela Custódia da Terra Santa, localizada na Cidade Velha de Jerusalém. As peças são únicas no mundo.

Neste final de 2024, como é tradição todo ano no Espaço Brennand (Avenida Domingos Ferreira, 274) numa iniciativa de Neném e Maria Helena Brennand, filhas de Francisco, vemos mais uma exposição de sua Galeria, composta de obras do patrono e de artistas do acervo: João Câmara, Roberto Ploeg, Reynaldo Fonseca, Zè Cláudio, Antônio Mendes, Álvaro Caldas, Lula Cardoso Ayres, Siron Franco, Marlene Almeida (Galeria Marco Zero), Clara Moreira (Galeria Amparo 60), Monica Piloni (Galeria Número). “Sem baixar a vista”, poema antológico de Deborah Brennand, é o tema do Espaço Brennand 2024

O texto de abertura é de autoria da professora doutora Virginia Leal (UFPE). Ela escolheu como epígrafe as palavras de Georges Didi-Huberman, filósofo, historiador da arte, professor da École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, também com experiência de curadoria (Centro de Arte Contemporânea do Museu da Universidade Nacional Três de Fevereiro – Muntref). A infinidade de possibilidades que o artista contemporâneo traz dentro de si, acha-se resumida nas palavras da mestra, doutora em Semiótica e Linguística pela USP/Université Paris X, Virginia Leal, ao opinar sobre as peças em exibição que vai fechar com chave de ouro o calendário artístico de 2024 nesta capital

Ao longo das suas edições o Espaço Brennand tem se consolidado no cenário artístico do Recife. Um espaço de “partilha do sensível” (pastage du sensible), como vejo no filósofo e exegeta da obra literária, Jacques Ranciére.

Marcus Prado – jornalista

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