Vida Passada… – Auta de Sousa – por Célio Meira.

Nasceu Auta de Sousa, no ano de 1876, na terra norte-rio-grandense. Vivei, na infância, no Colégio de São Vicente de Paula, situado na Estância, na cidade do Recife. Nesse estabelecimento de ensino, sob a vigilância maternal de religiosas francesas, Auta de Sousa começou a ler e a rezar, iluminado o espirito e formando o coração.

Era uma criança triste. Mas, “já na meninice, aos oito, escreve Mério Linhares, inspirado poeta brasileiro, sua inteligência despertava para as coisas superiores do sonho e da beleza espiritual da vida, e, no colégio, entremeava os deveres escolares com os primeiros surtos  de seu estro”.

Trouxe, Auta de Sousa, na jornada da vida, destino de amargura. Aos 14 anos, órfão, e doente, não sorria no mundo. Vivia pensando na morte. E, na mocidade, escreveu lindos versos, repassados de tristeza, e cheios de doçura, iluminada pelas graças do céu.

Publicou, aos 24 anos, o “Horto”, o jardim de seus sofrimentos e de suas dôres, onde havia “balbucios de prece e espirais de incenso”, Fez, de sua poética, harmoniosa, e clara como as águas de uma fonte, a consolação de suas manhãs nubladas, de suas tardes, indecisas, e de suas longas noites friorentas, e sem estrelas. Doente, marchando apressada para o túmulo, peregrinou pelo sertão de sua terra natal, perfumada pelo “incenso agreste de jurema em flôr”, em busca da saúde perdida, da alegria de viver, e, desiludida, e mais tristonha, regressou a Natal, para reclinar a fronte cor de cêra, e quente de febre, na sepultura pequenina, coberta de lírios e de rosas. Adormeceu, sorrindo, na Eternidade, a 7 de fevereiro de 1901. Auta de Sousa tinha 25 anos de idade.

Quando ele morreu, a cidade de Natal, de luto, se ajoelhou, para assistir ao enterro da poetiza. Numa rua, narra Ezequiel Vanderlei, parou o préstito fúnebre. E um homem ilustre, político de prestigio, aproximou-se do ataúde de Rosa de Macaíba, e abrindo-o, beijou-o, chorando, a face fria, e iluminada por Deus, da princesa da poesia do nordeste brasileiro.

Era, esse homem venerado, o senador Pedro Velho. E esse beijo era a homenagem comovida do Rio Grande do Norte.

O espirito amado e fulgurante de Auta de Sousa, pelo muito que sofreu, deve andar, pela terra, consolando os aflitos.

Célio Meira – escritor e jornalista. 

LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.

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