Na vila formosa do Sirinhaém, onde nasceu Maria Sousa. A heroína da Restauração Pernambucana, veiu, ao mundo, em 1784, o padre Venancio Henrique de Rezende. Ordenou-se em Olinda e aos 29 anos, exerceu a coadjutoria da paróquia do Cabo. Desencadeada a revolução republicana de 1817, ingressou, padre Venancio, nas fileiras dos rebeldes, empunhando armas, conta um historiador, na batalha de Pindóba. Vencido, foi anistiado, em 21, o sacerdote do Sirinhaém. Envolvido nos acontecimentos políticos, que culminaram com o atentado ao governador Luiz do Rêgo, sofreu, em Lisboa, as agruras do exílio.
Regressando à terra pernambucana, em 22, iniciou no “Maribondo”, a oficina “anti-corcundista” de José Mariano Falcão Padilha, e mais tarde, na “Gazeta Pernambucana”, a trincheira liberal de Manuel Clemente do Rêgo Cavalcanti , a brilhante e atrevida campanha nativista, elegendo-se deputado à primeira Constituinte brasileira. Foi jornalista vigoroso e orador eloquente. Dissolvida a Constituinte, em novembro de 1823, voltou, padre Venancio, revoltado, ao torrão nativo, e no ano seguinte, figurou nas colunas dos sonhadores que fizeram a Confederação do Equador.
Teve, na revolução de 24, papel destacado, redigindo, diz, Sebastião Galvão, o célebre manifesto de Manuel de Carvalho Pais de Andrade. E quando o brigadeiro Lima e Silva esmagou o sonho alcandorado de Natividade Saldanha e de Frei Caneca, Padre Venancio conheceu, de novo, o amargor do exílio, nos Estados Unidos e nas terras do México.
Enviou-o Pernambuco, anos depois, à Câmara Geral. E nessa bancada, revelou-se, o ilustrado sirinhaense, estadista esclarecido, pertencendo à geração intelectual daqueles que se bateram, e obtiveram, o Áto Adcional de Agosto de 1934, à Constituição do Império. E terminando o mandato popular, padre Venancio passou a viver de seu apostolado de cátedra, ensinando latim, francês, e inglês. Concedeu-lhe, a esse tempo, o bispado, a vigaria da freguesia de Santo Antônio do recife. Dirigiu, beirando os 70 anos, o Liceu Pernambucano.
Espirito fulgurante, foi, Padre Venancio, um semeador de esmolas. Pregou e praticou a caridade, com o coração em festa. E, aos 82anos de idade, no dia 09 de fevereiro de 1966, morreu Padre Venancio, na pobreza. Foi a irmandade de São Pedro dos Clérigos que lhe fez o enterro humilde. Deixou, na terra, as riquezas de seu cérebro e as graças de sua alma cristã e romântica.
Padre Venancio de Rezende, o preclaro filho de Sirinhaém, é, na história do Brasil, um exemplo de patriotismo, e um símbolo de cristandade.
Célio Meira – escritor e jornalista.
LIVRO VIDA PASSADA…, secção diária, de notas biográficas, iniciada no dia 14 de julho de 1938, na “Folha da Manhã”, do Recife, edição das 16 horas. Reúno, neste 1º volume, as notas publicadas, no período de Janeiro a Junho deste ano. Escrevi-as, usando o pseudônimo – Lio – em estilo simples, destinada ao povo. Representam, antes de tudo, trabalho modesto de divulgação histórica. Setembro de 1939 – Célio Meira.