Uma Revisão de Literatura sobre os Estudos de Transe de Possessão em Psicologia. – Considerações Finais

Nas páginas que antecederam observamos alguns pontos numa vasta literatura psicológica e antropológica pertinente ao entendimento acerca dos estudos realizados em torno dos estados de Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros. Examinando por este sentido os estudos foram direcionados para um mapeamento nas crenças afro-brasileiras, e suas influências sociais, atravessando fronteiras e gerações fazendo parte da vida de um povo.

A vida social, moral, hierárquica e religiosa polarizada pelos cultos afro-brasileiros, nos apresenta a preservação do homem, a cultura negra africana no Brasil. O Xangô assume a função da memória reveladora dos valores africanos, autor de modelos adaptativos neste processo de aculturação. A religião não se encontra isolada das camadas participativas da sociedade, o sincretismo adotado ligado às tradições religiosas africanas até os dias atuais chama a atenção para o fato de que estes papéis são desempenhados a partir de um código religioso.

Procurou-se instituir uma leitura histórica da origem do Xangô mostrando o sincretismo e alguns aspectos da religião. Foram expostos também os processos psicológicos existentes nos sentimentos atribuídos aos orixás, divindade ancestral que estabelece forças a seus descendentes durante o transe de possessão.

Podemos observar que, com o passar dos anos, o trajeto percorrido pelo Xangô se mantém forte levando em consideração o modelo trazido da África. Um universo sobrevive, mantendo autonomia de uma cultura indígena enfocando manifestações e práticas comportamentais. Abordando a questão dos procedimentos dos adeptos do Xangô, foram mencionados os estados de Transe de Possessão, situação que podemos considerar como um fenômeno complexo pelo estado que coloca o sujeito, modificando a sua consciência.

No entanto, se observou que estes comportamentos eram colocados numa concepção de mentalidades primitivas, as ações emocionais, a imitação, a repetição das músicas fluem no pensamento levando-o aos estados de Transe de Possessão. Viu-se que, o transe aparece como experiência subjetiva, sendo crenças na manifestação de um Deus, os orixás.

Quanto a sua estrutura e ritual, a aculturação trazida tem como finalidade uma organização para vivências de possessões espontâneas, as danças e músicas ritmadas e monótonas exercem grandes influências durante o ritual contextualizado como, comportamento normal ou patológico. Vimos que os estados de transe são considerados como perda transitória da consciência substituindo a identidade pessoal por outra associada a mudanças involuntárias nos comportamentos trazidos por um sincretismo religioso adotado por adeptos a centenas de anos.

Como podemos observar na literatura estudada, o Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros é classificado como perda temporária do senso de identidade pessoal, ocorrendo em situações religiosas ou aceitas culturalmente. Observando pelo aspecto psicológico, os sentimentos atribuídos no que se referem aos estudos das religiões, neste caso o Xangô, vimos que as cerimônias e rituais aos qual o indivíduo se submete favorece desenvolver comportamentos semelhantes. O Transe de Possessão nos Cultos afro-brasileiros é um fenômeno complexo, ligado a diversos estados onde se verificam os mecanismos motores de ação ancestral e ações dos pensamentos, exercendo grande poder de interferência psicológica modificando a consciência dos adeptos.

Referências
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FERNANDES, Gonçalves. Xangôs do Nordeste.Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1937.
LODY, Raul. Candomblé: Religião e resistência cultural. São Paulo: Ática, 1987.
MIRANDA SÁJR, Luiz Salvador de. Compêndio de Psicopatologia & Semiologia Psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1991.
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RODRIGUES, Raimundo Nina. O animismo fetichista dos negros bahianos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: Caminhos da Devoção Brasileira. 2. ed. São Paulo: Selo negro, 2005.
VERGER, Pierre. Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981.
________________. Lendas africanas dos Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981. 

Espero que tenham gostado, posteriormente estarei postando outros artigos.

Até próxima semana

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Cleiton Nascimento
Psicólogo
CRP02.14558

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