Hoje, 05 de abril de 2013, está completando 66 anos da inauguração do Cinema Iracema na nossa cidade. O dia cinco de abril de 1947, dia da inauguração, foi um dia de sábado. Segundo comentários de pessoas mais velhas, a expectativa era grande, em todos os segmentos da população na pacata, e ao mesmo tempo mutante, Vitória na metade do século 20.
Os proprietários do empreendimento foram os irmãos João Sabino de Andrade e Luis Boaventura de Andrade. Sem sombra de dúvidas o CINE IRACEMA marcou várias gerações, em uma época, de grandes transformações na nossa cidade.
Consta em meus arquivo que o “negócio” cinema, na metade do século passado, data de inauguração do Cine Iracema, não era propriamente uma novidade em Vitória, já que consta notícia no Jornal local, O POPULAR, em 06 de novembro de 1909, que estampava o seguinte:
Exibir-se-á, amanhã, no Recreio Dramático Familiar, um bem arranjado cinematógrafico de propriedade do nosso amigo Joaquim Neves, custando uma entrada 500 réis. Todos devem comparecer. É tão barato!…”
Pois bem, o empreendimento deu tão certo que anos depois os proprietários realizaram uma ampliação nas instalações do CINE IRACEMA, tornando-a apta à acomodar, de maneira confortável, mais de 1.000 pagantes.
É com essa pequena lembrança no dia de hoje pelo Blog do Pilako, que marcamos a passagem do aniversário de 66 anos da inauguração do CINE IRACEMA em nossa Cidade. Para brindar o acontecimento publicaremos um artigo, escrito na Revista do IHGVSA Vol.XII de 1995, que bem retrata a singularidade do sentimento de um dos seus proprietários.
Era rotineiro, trinta anos atrás, os cinemas da cidade divulgarem sua programação diária através de cartazes, de vistosos letreiros, expostos em pontos estratégicos do centro, presos nos postes de distribuição de energia.
O Cine Iracema, dirigido durante vinte e cinco anos por nossa pessoa, usava seis cartazes nos dias uteis: um na esquina da Igreja do Rosário, outro no cruzamento da Rua Rui Barbosa com a Avenida 15 de Novembro, mais um na Praça Diogo de Braga; outro ainda na Praça Duque de Caxias; e os dois últimos na Rua Imperial e na Vidal de Negreiros. Em dia de domingo a divulgação era reforçada com mais quatro e até seis cartazes.
Pintar os coloridos cartazes era a especialidade de Antônio Bernardino, que se esmerava em competir com o cartazista do Cine Braga.
O artista residia em uma dependência do próprio cinema, onde trabalhava nos horários de inspiração.
O Sr. Antônio Bernardino foi nosso colaborador dedicado, na programação do Iracema, apontando-nos reprises oportunas de filmes que ele próprio exibira quando gerente (que fora) do Braga e do Cine Rio Branco. Assim é que não cansava de nos recomendar o Anjo Azul, versão de Marlene Dietrich; O Ladrão de Bagdá, com Sabu; O Rei dos Reis, de Cecil B. de Mille; O Mágico de Oz, com Judy Garland, seus filmes favoritos.
Ademais, com zelo inexcedível, Antônio Bernardino assistia a todas as exibições, e era vigilante fiscal da conduta dos frequentadores. Quando ouvia qualquer vozerio perturbador na sala de exibições, ia-se achegando, silenciosamente, do grupo, para conhecer a causa da agitação, explicar irregularidades ou pedir silêncio.
Foi assim que em uma segunda-feira de público reduzido, o Sr. Antônio Bernardino notou que o ex-prefeito Manoel de Holanda entrava no Iracema, acompanhados de convidados do Recife, para ver um aplaudido filme classe A. O senhor Antônio Bernardino procurou, nessa noite, esmerar-se no zelo pelo silêncio.
A certa altura do filme, comentários de um grupo, em voz alta, elevaram-se no silêncio dos demais espectadores. O zeloso Bernardino foi aos poucos se aproximando do grupo e, dando de cara com o Sr. Manoel de Holanda, ouviu-o rir divertidamente e comentar com os visitantes.
“Não apostei que ele iria surgir para tomar providências?”.
(—-*—-)
Com este pequeno registro desejamos deixar para a memória da cidade o testemunho do amor e da dedicação com que, anonimamente, o saudoso Antônio Bernardino de Sena trabalhou, anos a fio, pelo cinema na Vitória.
(REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO – VOL. XII – 1995. PÁG. 41 A 42)
Saudades das matinês das tardes de domingo onde com um grupo de amigos estavos sempre atraz de nomorar. êta tempo bom.
PARABENS PELA MATÉRIA DA INAUGURAÇÃO DO CINE IRACEMA . ESPERAMOS QUE FAÇAM MAIS,PARA RELEMBRAR-MOS DO BOM
TTEMPO , QUE NÃO VOLTAM MAIS !
Caro Pilako, a quem hoje pertence o Cine Iracema? E porque os atuais proprietários deixaram ele praticamente abandonado? Será que a prefeitura não tinha interesse em adquirir o imóvel? Acredito que em dias muito próximos veremos no local a construção de um “arranha céu”, ou até mesmo um estacionamento, assim como aconteceu com o Cine Braga…
Pilako,
Muita justa a homenagem prestada pela passagem e lembrança da inauguração do Cinema Iracema. Lembro-me ainda pequeno e adolescente que frequentava o citado Cinema. Recordo-me do Sr. Luis Boaventura, do Sr. Lula da Farmácia Drovil, do Prof. Luis Boaventura – Um cidadão de caráter, honradez e cultura admiráveis ,como poucos em Vitória; merece também ter sempre sua memória relembrada e cultuada por essas novas gerações. Infelizmente os grandes homens da nossa cidade já se foram… Justo agora que Vitória precisa tanto deles.
É de pessoas assim que nosa cidade carece e necessita e, com urgência.
Parabéns!
Bem, que postagem colossal, estamos envolvidos demais em relação ao cine-teatro eu fiz uma Cordel nesse tema a uns dias atras, quero compartilhar com os colegas
Iracema, teatro e cinema
Não há prédio mais assombrado
Do que um teatro abandonado
Sete dias da semana
O Iracema seu brilho ainda emana
Nas paredes desse teto
Caipora o cachimbo pita
Sete Flechas e Curupira
Morcego no caminho certo
Mil lugares, esse palco
Camarim pra grande elenco
Rotunda preta suja de talco
Anjo palhaço do céu despenco
Preparei forte feitiço
Pra confundir o coroné
Traição de padim Ciço
Das estrelas vim a pé
Iracema é vossa Pérola
Patrimônio da Cidade de Braga
Estrela da carambola
Cinema, Teatro, cemitério de baga
O Iracema é cenário
De peça do Osman Lins
Soldado que prende Canário
Joana Carolina de patins
Patrimônio registrado
Servindo de abrigo aos ratos
Pois então vai ser resgatado
Evoco também os Literatos
E chamo por minhas Musas
Inspiração da Casa Velha
Iracema tem cortina camurça
Do Teatro a magia vermélha
Nove tias bruxuleando o canto
Secundina Gasparina Moura Severina
Maria Blandina Joana Carolina e Mirandolina
Resquícios de Minerva que me alimenta o pranto
Meu coração pesa pelo Iracema
Entristece demais ver Arquitetura morrer
Corrupta política capital cheiro podre da gema
Os espíritos do teatro não terão como correr
Não há super-homem, messias espero
Que venha além-homem, eu espero pra ver
Oh! Príncipe Vespertino, vem com ouro combater
Nos devolva esse espaço, é o que quero
Trago do peito o sopro da mão
Toco fogo na pira de Iracema
Quem dera eu ter varinha de Condão
Ou uma valiosa Gema
Faria valorosa mágica
Como essa que faço apenas
Uma decisão estratégica
Vestir meu colar de penas
É hora de acordar Iracema
Que dorme no mundo iluminado
Vai acordar já em cena
Pro coroné ficar bestificado
Ao teatro voltou meu palhaço
Com ajuda de cada Encantado
O nome deles escrevi num laço
Despachei pra assombrar coroné safado
Como Cristo expulsou mercadores do templo
Usaremos essa Filosomia de Exemplo
O Signo de Salomão será nosso escudo
Os cinco elementos é a fonte de estudo
O Iracema é nosso, não estou com as chaves
Então entro voando pra levantar grandes traves
O ouro do Príncipe reconstrói velho teto
Teatro Iracema fica a céu-aberto
O sete-estrêlo é reflexo no chão
Ao lado, Orion, cabeça de leão na mão
E Sírios é o cão que vigia o portão
Pra isso meu povo; é só prestar atenção
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Amigo Pilako,
Muito feliz em ver a memória do meu avô e do Cine Iracema lembradas no seu blog para as novas gerações e os saudosos.
Falei sobre os cinemas de Vitória no meu trabalho de Conclusão de Curso na graduação em Jornalismo. Ouvi muitas histórias boas da Dr Diva e do Marcus Prado, que viveram essa época. Aproveito para compartilhar o link do vídeo que fiz em 2004: https://m.youtube.com/watch?v=UVJjpjbjb94
Um grande abraço!
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Chorei ao ver e lembrar destas imagens do cine Iracema, ainda crianca frequentei e vivi durante muitos anos ao lado deste cinema. Ali assisti filmes que jamais sairam de minha memoria. Ali namorava e fiz muitos amigos. Muitas saudades de tempos maravilhosos e que jamais voltaram. Parabens pela bela e emocionante materia.
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