Não lembrei, mas o nome de Zeca peixe, meu avô, era José Mário Silvério Coelho. Que não tem nada com Pedro peixe ou Mario peixe ou outros habitantes dos rios e mares do mundo e de Vitória, alias nem o nome dele tinha peixe, mas isso é o de menos.
Dessa vez gostaria de falar de um dos filhos dele, um tio que ninguém esquece. Zé Íris, José Íris Freitas Albuqerque. Dentre as histórias desse vitoriense queria destacar algumas que me lembro e doutras que são lembradas por aqueles que conviveram com ele. Certa vez Zé Iris ainda criança, foi intimado pelo pai a ser internado no antigo colégio de Pacas. Automóvel era coisa de gente, não tínhamos, mas pai Zeca coneguiu emprestado um daqueles carros que tinha o pneu de step do lado de fora. Ao chegar no colégio foi falar com o diretor e enquanto conversavam, o menino foi saindo devagarzinho e se enfiou na brecha onde ficava o pneu de step. O meu avo se despediu do diretor e esperava que o Zé íris já havia se enturmado por ali e se perdera dele pelo tanto enérgico que era o pestinha. Chegando em casa ao descer do carro, notou que alguém o seguia e olhando para trás teve a surpresa de ver Zé íris junto dele dizendo : olha pai voltei. Num gesto de raiva e carinho pai Zeca grita com ele: entra logo em casa seu safado. Na fase do exército foi se alistar no 14 RI em Jaboatão que na época tinha fama de transformar, rapazes desobedientes em homens. Certa feita o Tenente, ou comandante da tropa, encarregou Zé Iris para tomar conta de dois dos seus filhos pequenos que naquele dia estavam no quartel. Quando o oficial saiu, Zé pegou os dois meninos e colocou um em cada cestinha parecidas com pequenos balaios, amarrou em uma vara e colocou nos ombros, com um menino de cada lado pendurado e foi para a feira de Jaboatão. Lá se divertiram com tudo aquilo que uma feira livre apresenta: frutas, galinhas, ladeira acima e ladeira abaixo. Os garotinhos adorando tudo aquilo. Foi nesse meio tempo que o oficial voltando ao quartel deu conta da falta dos meninos e de Zé Íris também. Louco, desesperado, pra saber o que havia ocorrido mandou uma viatura procurar por eles em Jaboatão, onde quer que fosse. Logo encontraram os três se divertindo como se fossem todos da mesma idade. Zé Íris foi levado preso e o oficial muito irritado não se cintinha em dar-lhe broncas e lições de moral e conduta e etc. Os meninos logo entraram na discussão e defendiam Zé de todo jeito dizendo que aquele foi o dia mais feliz da vida deles. O oficial pra não se opor aos filhos e vendo que não houve realmente nada demais, liberou Zé Íris que ficou amigo dos guris e muito agradecido. No velório do meu tio tinha de tudo, de tudo mesmo, pessoas da sociedade, as bichas mais famosas, como Brigite, Joelma, Biu da Goma…, acho que todas as raparigas da cidade, bêbados, loucos e etc. Todos lamentando a perda do estimado amigo e companheiro de muitas e muitas cachaças. Alguns se deitavam debaixo do caixão chorando e cantando, feito Geraldo Azevedo, outros aproveitavam para beber, mais, o defunto. As putas não se seguravam, aquela triste alegria, diziam : isso é que era um homem; me leva junto; nuca vi outro igual; e etc de novo. Tudo mentira, mas do bem. O cortejo seguiu em zigue-zague levado o caixão pelos bêbados que às vezes iam de lado ou para trás, mas enfim dos 500m que separavam a casa ao cemitério em poucas 9 horas chegamos. Acho que de tanto balançar o caixão ele deve ter tido seu último porre, ou deviam ter escrito: agite bem antes de enterrar. Mas de tudo se tira uma lição e aquela que ficou pra mim dele foi que mesmo dentro de uma loucura encerrada de maneira tão breve, ele sempre nos fez sorrir.
Franklin Ferreira
Professor de Química