Esqueçam Che Guevara. O texto já havia sido redigido quando localizei a notícia de que a presidente Dilma Rousseff, com ares de menina travessa, confessara haver enganado a segurança para andar de moto em Brasília. Recordei os tempos de Fernando Collor, o Tom Cruise tupiniquim. Algo se repetia naquele momento de audácia da Chefe de Estado. Completava a notícia o registro de que a presidente não possuía habilitação. Entrevistada a respeito das motos e da regulamentação da profissão dos motoboys, a Chefe do Executivo acentuou que a profissão concorria para o progresso e para o desenvolvimento do país. O motoboy desempenharia o papel de “telegrama vivo”.
Centremos a nossa atenção no vapt vupt. A velocidade tem as suas vantagens e desvantagens. Na realidade, a maioria dos proprietários de moto não são entregadores de pizzas e de outras mercadorias. Tal não significa que não existam riscos e necessidade de segurança ou proteção desses trabalhadores. O Brasil com uma frota em torno de 80 mil motos. A maior quantidade está em São Paulo. A questão mesmo é a falta de educação desses telegramas pulsantes. Eles usam os “corredores” estreitos ou vazios entre as viaturas, costurando o trânsito. Com isso arranham os carros e provocam acidentes graves. A maioria trafega numa celeridade perigosa. Os motoqueiros não seguem as regras da circulação de todos os veículos, não guardam distância da lateral ou frontal, talvez a maioria sequer possua carteira e seguro.
No Brasil, o motociclista é marginalizado pelo próprio Estado. Não é o que sucede em outros países, por exemplo, na Alemanha, Itália, França, Espanha… Aí a moto é considerada um veículo importante de locomoção, na medida em que concorre para tornar mais eficaz a política de mobilidade. Diferente sucede no Brasil. Aqui as mortes por acidentes derivadas de moto cresceram acentuadamente nos últimos 10 anos. Em torno de 300%. Entre 2001/2012 foram registradas 11.268 mortes.
Já estive hospitalizada uma vez – e por mais de uma semana – por conta de moto. Já perdi um afilhado com 22 anos, vítima de velocidade excessiva dessa máquina “telegráfica”. O rapaz teve a cabeça decepada. Há anos outros exemplos que bem concorreriam para acentuar as tintas fortes de um filme de terror. O certo é que a maioria dos brasileiros é deseducada em todos os planos. Por isso não se deve entregar uma arma a alguém sem um preparo mínimo. Um telegrama não pode chegar às mãos do destinatário tingido de sangue. Também a população não pode ficar à mercê das reviravoltas desses azes do volante, tendo seus automóveis constantemente esfolados e sem condição sequer de reclamar. Além da escapada normal, os condutores das motos replicam sorridentes que não tem dinheiro para custear reparos. E não devemos esquecer que o grupo se vem fortalecendo cada vez mais com o apoio de grupos depressão intimidadores. É a hora de pensar num projeto de mudança aberto a benefícios comuns e sem o intuito de carrear votos nas eleições.
Dayse de Vasconcelos Mayer é escritora.
Texto originalmente publicado no Jornal do Commercio – Recife | 1º de setembro de 2013 | domingo – pág 18.