Espasmo… Vertigem do sétimo sentido do sol,
nos braços da terra…
Espasmo… O silêncio desvirginizando o tempo
no leito das horas…
Espasmo… A orgia da vida, na bacanal da morte…
Meu amor! Espasmo…
O meu beijo na tua boca…
Meu amor! Espasmo…
O teu beijo na minha boca…
Espasmo… A noite estava, com as estrelas,
arrumando o céu, para receber o dia.
O luar veraneava, longe, levando a sua bagagem de luz
E as ventanias passavam, correndo, para assistir ao
parto prematuro da primeira aurora.
E eu me desfiz dentro de mim…
Espasmo… A natureza parecia enxugar o seu vestido
cor de ouro debruado de azul, hemoptise do poente.
As nuvens voltavam, cansadas do trabalho das trajectórias,
a tomavam a rua das trevas.
Os pássaros acabavam de dar o seu último concerto do dia
na ribalta dos espaços, e recolhiam-se felizes nos bastidores
das folhas.
E eu me procurei em ti…
Espasmo… As raízes entregavam-se à terra,
para a eterna renovação dela mesma.
Os elementos tocavam-se na confusão das origens,
O éter, na elasticidade, dobrava-se
volatizando-se por todo o universo.
E, eu, te senti em mim.
Martha de Holanda, vitoriense, filha de Nestor de Holanda Cavalcanti e de Matilde de Holanda Cavalcanti, nasceu a 20.III.1909 e faleceu no Recife a 24.VI.1950. Casou-se com o poeta Teixeira de Albuquerque aos 8.XII.1928.