As sombras não são mais
que um segredo da terra
aos ouvidos da luz:
– queixas, desilusões, suspiros, ais,
que o coração da natureza leva
e que ninguém traduz.
Umas sombras vêm, outras vão,
num bailar esquisito,
como alguém que, a sofrer,
transfigura a expressão
e diz guardar em si,
todo o bem do Infinito…
E assim, misteriosamente,
em tudo está contida,
nos caminhos, nos lagos, nas alfombras,
no destino da gente,
no esplendor da vida,
a dança enigmática das sombras.
(Muitas rosas sobre o chão – Henrique de Holanda – pág. 16).