Momento Cultural: Cavalo Alado – por GUSTAVO FERRER CARNEIRO

Gustavo Ferrer Carneiro

 

 

Meu rudado mais fino

Passo escanhoado

Aquele cavalgar abafado

Minha prenda mais amada

Montai em meu cavalo

Libertando seu júbilo

Estando só com meus pensamentos

 

Na passada me faz bem

No galope martelado

Chega mais rápido

Sentindo os ventos alísios no rosto

As gotas de chuva no peito

 

Ao passo monógamo

Em busca de pequenas vitórias

Quem sabe…

Grandes fracassos

 

O outro caxito

Deixa saudade

Estrela na testa

Pé esquerdo branco – ajé…

Na carreira desmedida

Pega o rabo do boi

Prega no pescoço

Dois cavalos dois vaqueiros

Tênue como névea

Asas que atem sem ruídos

 

Na poeira, no riacho

Nas barreiras

Na faixa

O chão se abre,

No sucesso do valeu

Engole cavalo, cavaleiro e boi

Reservas transcendentais

Naquele cavalgar abafado

 

Levanta os pés no meio da poeira

Pelo lusidio

Correndo por entre as juremas

Somem-se no meio da noite

O cavalo estropiado

Não se entrega

Como lampejo de relâmpago

Em noite de tempestade

Crava-lhe as esporas

O cavalo risca

O sangue desce

A realidade cobra

 

Tem que aceitá-lo ou rechaçá-lo

Sorridente e carrancudo

Se detendo na raiz do coração

Em busca da mulher amada

Tem gado, tem vaqueiro

Tem corrida de Mourão

O que vale é boi no chão

É a lei da Vaquejada
(MOSAICO DE REFLEXÕES – GUSTAVO FERRER CARNEIRO – pág. 31).

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