Ao longo da estrada,
à margem do caminho,
topei numa pedra,
cotovelos apoiados aos joelhos
e mãos o rosto encobrindo.
Cautelosamente,
aproximei-me devagarinho,
daquela criatura
que ali estava
como que concentrada
a meditar…
talvez, quem sabe?…
– uma alma envolta na cerração
Do mais cruciante abatimento,
carpindo bem triste solidão,
presa aos grilhões do sofrimento
E ali, esperando fiquei
té que aquele alguém falasse
e se pronunciasse…
Era preciso esperar, Senhor!
E, enquanto o silêncio perdurava
entre os dois,
pude, extasiada,
contemplar a tarde
num cenário de beleza
no palco da Natureza.
– o Sol, rubro agonizando
no Ocaso, a estrertorar
enquanto
num saudoso pipilar
que se confundia
como o toque da Ave Maria,
o passaredo, o espaço entrecortando,
os ninhos buscavam regressando.
E, ali, estacionada permaneci
Aguardando a sua voz.
De repente…
eis que, o rosto descobrindo,
meio sobressaltado,
pude contemplar
aquele alguém
a quem
eu quisera tanto
a sua dor amenizar
Logo perguntei: – Quem és?…
E ele, enfaticamente, jogando a basta cabeleira:
– Sou a Juventude…
essa juventude (segundo afirmam):
“transviada”… “má”, “fútil”… leviana…
cuja vida – um conflito!…
e, nessa luta insana,
fracassada, desiludida,
mas… gargalhando como o palhaço
sem jamais saciar
a sua sede de Felicidade,
vai em busca das tavernas,
beber, fumar, jogar,
e… numa ânsia incontida
disfarçando os seus fracassos, a sua Dor,
ei-la que se atira
cantando, sacacoteando
a fazer o “passo”
à loucura bacanal
do carnaval.
E por repudiada no seu idealismo,
a juventude sente,
no vazio coração
(todo egoísmo, toda ambição),
que algo lhe está faltando,
algo essencial,
sublime… (sei lá)!
– Algo que amenize os dias seus…
(respondi incontinente):
– Está lhe faltando – Deus!
– Não! (refuta o moço)
a Juventude ainda crê…
apesar do abismo que a ameaça
ela exclama, olhando o Infinito:
– Senhor, escuta a nossa prece,
prece de jovens esquecidos,
incompreendidos,
famintos de apoio e proteção,
de tolerância e sobretudo,
de… Amor!
Vê, Divino Amigo:
a mor parte dos pais
não nos compreende…
recusam dissipar as nossas dúvidas,
resolver os nossos problemas,
e, jamais querem ser nossos confidentes,
nossos melhores amigos!
– Também, na nossa Faculdade,
não Te encontramos, ó Deus!
Porque o ambiente estudantil
sempre hostil,
(pura atmosfera de laicismo)!
nada mais é
que um triste baquear da Fé!
– Eles, os mestres,
eles, os nossos amigos
não nos mostraram a tua Face…
Mas!
E os jovens que já andavam fracos,
quase sucumbiram, Senhor,
sob a influência dos outros,
dos maus,
durante muito tempo!
E, a “uma voz”
Resolveram então,
com os companheiros desajustados,
exigir dos governantes
as suas reivindicações
os seus direitos postergados…
Norteada, erradamente,
pela estrela vermelha
do Comunismo dissolvente,
a Juventude vacilante,
longe da senda do Bem,
assim, exaltada,
desenfreiada,
não soube pedir!…
– Saiu a gritar, a plenos pulmões,
em praça pública,
amotinada,
declarando greves,
depredando, apupando, vaiando…
– Daí, Senhor,
quase tudo perdido
e, pouco ou nada conseguido!
E agora?…
Resta-nos as prisões, duros castigos
em represália!
– Por quem És, ó Deus,
transforma o coração da gente,
– o coração altivo da Juventude
conservando-o intangível
aos ataques do Mal!
e, numa Altitude, bem ao lado Teu,
ela saberá, mais forte, regenerada,
feliz, instruída, varonil
tornar mais glorioso o Brasil!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
E o jovem quedo, silenciou!…
– Obrigada, Juventude, (disse-lhe eu).
Agora o meu conselho previdente,
amigo, experiente:
para seres sadia e venturosa,
para na vida, feliz, sempre venceres,
continua a pedir, a gritar,
mas… com toda prudência
e veemência
da tua força jovem:
– Queremos Luz, Senhor,
e dos homens compreensão
e, sobretudo – Amor!
(SILENTE QUIETUDE – ALBERTINA MACIEL DE LAGOS – pág. 55 a 59).