Palinha do Léo dos Monges: Tarde em Itapoã

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Tarde em Itapoã contada por toquinho “tínhamos feito quase três musicas quando Vinicius fez a letra “tarde em itapoã”, e ia dar para o caymmi musicar, porque não tinha ainda confiança em mim. Isso eu imagino, ele nunca me falou. mais eu queria de todo jeito musicar aquela letra. Na época, não havia ainda computador, tudo era datilografado. Eu via Vinicius escrevendo aqueles versos há dias. para conseguir meu intento, sem falar com Vinicius, peguei a folha da máquina de escrever e vim para São Paulo resolver uns negócios. Sabia a responsabilidade que tinha em mãos e demorei muito tempo para concluir a melodia sem mexer numa sílaba sequer do texto original. Deu no que deu: um dos maiores sucessos da música brasileira registrado na alma de todo brasileiro. Parece que Vinicius letrou a música. voltei para Bahia depois de três dias, com o poema e a música pronta. Vinicius ficou ouvindo um tempão a música, e não falava nada. Ficava ouvindo no gravado, quieto, fumando, meio indeciso, tentando não se convencer. E o pessoal já começava a contar na casa. Aí, ele me chamou e me disse que não ia dar mais para o Caymmi. foi nessa que ganhei o poeta!

É um poema todo lido, tanto que eu não mexi uma virgula dessa letra, não mudamos uma palavra. é difícil conservar uma letra inteira, perfeita como essa. ela tem uma beleza grandiosa na riqueza dos detalhes. É uma música completa. do meu repertório com Vinicius, é uma das que mais gosto. Nunca deixei de cantá-la em nenhum show. as pessoas gostam, contam, fica uma harmonia religiosa no show. Quanto mais o tempo passa, quando contato essa música, as pessoas aplaudem na introdução, depois que eu fiz essa melodia, o Vinicius me deu um voto de confiança”.

Tarde em Itapoã
Vinicius de Moraes/Toquinho

Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

leo

 

 

Leo dos Monges

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