Seu terceiro disco, coração selvagem, é uma pequena obra-prima. É o ápice do Belchior compositor, filósofo e discreto cronista de um cotidiano cruel, que já se insinuava sobre As pessoas naquele 1977. Sua interpretação da faixa da faixa título é um dos maiores momentos do Blues Made in Brazil, devidamente temperado por versos matadores como “Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar, que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar “ ou ”Não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja, arco-iris, anjo rebelde, eu quero o corpo, pois tenho pressa de viver”. Jamil Joanes toca baixo e Hélio Delmiro conduz guitarras e violões, o arranjo de cordas de Paralelas, outro sucesso, que já registrado em 1975 por Vanusa, trazia toda a beleza distópica da canção. A letra, igualmente rica, vinha com versos que ganharam fama como “ No Corcovado, quem abre os braços sou eu, Copacabana, esta semana, o mar, sou eu, como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o que é cruel, o que é paixão.
O disco ainda traz outros belos exemplos da poética Belchioriana, como “ Galos, noites e quintais” e a subestimada populus, assombroso canto sobre a relação pobres, ricos, trabalhadores e patrões. Coração selvagem foi lançado em CD em 2000 na série Warner Achives.
Leo dos Monges